Sobre leitura e formação de leitores
Nas últimas décadas, a demanda pela leitura e pelo domínio da linguagem escrita em nossa sociedade é cada vez maior. Basta abrir as páginas dos classificados em qualquer jornal para que nos deparemos com as exigências colocadas para os profissionais à procura de emprego. Exige-se do candidato às mais diversas funções que demonstre domínio da língua portuguesa, que seja bom ouvinte, que tenha boa comunicação verbal e escrita, boa redação, facilidade de comunicação e um bom texto.
Sabemos que esta demanda não é exclusiva do Brasil, mas uma questão mundial, que hoje exige o domínio da linguagem escrita como condição para a produção e acesso ao conhecimento.
Sobretudo a leitura é requerida para que se possa ter acesso a informações veiculadas das mais diversas maneiras: na Internet, na televisão, em outdoors espalhados pelas cidades, em cartazes afixados, sistematicamente, nos muros das ruas, nas mais diferentes placas informativas, folders, impressos de propaganda, distribuídos insistentemente aos transeuntes, e, até mesmo, em receitas médicas e bulas de remédios.
No entanto, não é apenas para o mundo do trabalho que esse conhecimento é importante. Para a ampliação da participação social e exercício efetivo da cidadania ser um usuário competente da linguagem escrita é, também, condição fundamental.
É decorrente dessa compreensão a necessidade que hoje se coloca para a escola: a de possibilitar ao aluno uma formação que lhe permita compreender criticamente as realidades sociais e nela agir, sabendo, para tanto, organizar sua ação. Para isso, esse aluno precisa apropriar-se do conhecimento e de meios de produção e de divulgação desse conhecimento.
Nas sociedades letradas, como a nossa, esse processo de apropriação está estreitamente ligado ao conhecimento da linguagem escrita, principalmente no que se refere à leitura.
Esse conhecimento, tal como hoje compreendemos, refere-se a um grau ou tipo de letramento que inclui tanto saber decifrar o escrito, quanto ler/escrever com proficiência de leitor/escritor competente, quer dizer, saber utilizar nas práticas sociais de leitura e de escrita as estratégias e procedimentos que conferem maior fluência e eficácia ao processo de produção e atribuição de sentidos aos textos com os quais se interage.
No que se refere especificamente à leitura, o que isso significa?
Leitura: uma prática social
Leitura: processo individual e dialógico
Letramento e leitura
As estratégias de leitura
Os procedimentos de leitura
:: Leitura: uma prática social
Em relação à leitura, ter fluência e ser eficaz na atribuição de sentido aos textos significa, inicialmente, compreender que ler é uma prática social que acontece em diferentes espaços com características muito específicas: o tipo de conteúdo dos textos que nele circulam, as finalidades da leitura, os procedimentos mais comuns, decorrentes dessas finalidades, os gêneros dos textos. Por exemplo, em um consultório de dentista costumam estar disponíveis vários tipos de revistas, ali disponibilizadas para que os pacientes "passem o tempo" enquanto esperam seu horário; uma leitura de entretenimento, basicamente. Nessa situação, a leitura costuma ser feita em voz baixa, e é interrompida tão logo a presença do paciente seja solicitada pelo dentista.
Os textos terão características bastante diferentes, proporcionais à variedade de cada revista e serão organizados em gêneros típicos da mídia impressa: artigos, reportagens, notícias, notas, classificados, propagandas, editorial, crônicas, por exemplo.
Em uma missa da igreja católica costumam circular os textos religiosos que constam da Bíblia, de missais e folhetos que orientam a participação no ritual. Nestas ocasiões, lê-se supostamente para retirar do texto algum ensinamento - já que os textos a serem lidos foram selecionados especificamente com esta finalidade -, ou para acompanhar o ritual, sabendo quais falas deverão ser realizadas. Nessa situação, é costume realizar leituras em voz alta, individualmente e em coro. A leitura que se realiza nesse espaço, quando se trata da Bíblia, é de pequenos trechos, não se tratando, dessa forma, de uma leitura exaustiva. Quando se trata dos missais ou dos folhetos orientadores, a leitura é quase instrucional, visto que orienta as pessoas sobre o que devem dizer nos diferentes momentos do ritual.
Quando se está em casa e se toma um romance para ler por entretenimento, por exemplo, a leitura será sempre extensiva (a obra toda, linearmente), ainda que realizada parte a parte.
Ao se participar de uma leitura dramática, sabe-se que uma peça de teatro será lida em voz alta e interpretada por atores. A finalidade colocada para a leitura é interpretar dramaticamente o texto; para os que assistem, é apreciar a leitura que está sendo realizada pelos atores. Nessa situação, os textos serão sempre peças de teatro.
Assim como coexistem diferentes práticas sociais em uma mesma sociedade, em um único momento histórico, diferentes sociedades estabeleceram diversos usos para a escrita e a leitura ao longo da sua história.
Como afirma Marisa Lajolo:
A leitura, como prática social, é, portanto, histórica.
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:: Leitura: processo individual e dialógico
Usar a leitura de forma competente significa, também, compreender que ler é tanto uma experiência individual e única, quanto uma experiência interpessoal e dialógica. E isso nos remete diretamente à natureza do processo de leitura. Toda leitura é individual porque significa um processo pessoal e particular de processamento dos sentidos do texto. Mas, toda leitura também é interpessoal porque os sentidos não se encontram no texto, exclusivamente, ou no leitor, exclusivamente; ao contrário, os sentidos situam-se entre texto e leitor.
Um texto é sempre produzido em um determinado momento histórico no qual se encontra definido um determinado horizonte de expectativas, derivado de um conjunto de conhecimentos e informações disponível e compartilhado pelos possíveis interlocutores - em maior ou menor medida. Assim, quando um texto é produzido, alguns sentidos são pretendidos pelo autor, sentidos decorrentes da forma de compreender o mundo constituída naquele momento histórico específico e em uma determinada cultura.
Uma leitura, igualmente, é decorrente do conjunto de conhecimentos e informações disponível no momento histórico em que a leitura se realiza, o qual constitui uma determinada forma de ver o mundo.
Desse modo, ao lermos uma obra escrita em meados do século XVIII, por exemplo, certamente nos depararemos com determinados ideais estéticos de beleza feminina e masculina, com determinadas referências de educação e cultura que, podem não corresponder, necessariamente, aos que hoje circulam na nossa sociedade. Por exemplo: uma pele alva, e uma mulher "cheia de carnes" podem não corresponder à referência estética de beleza feminina de hoje, na sociedade brasileira (certamente, não corresponderá nunca aos ideais estéticos dos países de cultura africana...). Da mesma forma, o hábito de a mulher andar sempre protegida por uma "sombrinha", o significado conferido ao ato de corar diante de uma fala um pouco mais atrevida de um homem, o efeito que provocava nos homens a visão de um tornozelo feminino, não são os mesmos que circulam hoje, na nossa cultura.
Assim, o processo de construção dos sentidos de uma obra de tal época será resultado do que for possível ao leitor de hoje compreender (e recuperar) sobre os valores que circulavam quando a obra foi produzida. Essa compreensão se dará de maneira circunscrita em um horizonte cultural atual, que pressupõe outros valores; portanto, os sentidos não serão os mesmos que circulavam no contexto cultural de origem da obra, mas aqueles que forem possíveis ao leitor hoje, que resultarão permeados das nuances dos valores atualmente vigentes.
Um aspecto importante de salientarmos é o fato de que as palavras são constituídas por um significado estável e recuperável pelos falantes de uma determinada língua em um determinado momento histórico -, e também por um conjunto de sentidos decorrentes das experiências pessoais de cada um, constituídos a partir das referências particulares de cada falante ao logo da vida. Significado e sentidos constituem um amálgama indissolúvel, de tal forma que uma palavra nunca será a mesma para diferentes pessoas, embora possa ser compreendida no que tem de generalizável.
Assim, ainda que lida por sujeitos que vivam em um mesmo momento histórico, uma palavra nunca será a mesma para diferentes sujeitos. Os sentidos de um texto, portanto, ao mesmo tempo em que são resultado de um processo pessoal e intransferível, dialogam, inevitavelmente com o outro: o autor, os outros sujeitos presentes no corpo de idéias que constituía o horizonte cultural do momento de sua produção. A leitura, assim, é pessoal e, ao mesmo tempo, dialógica.
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:: Letramento e leitura
A leitura, além disso, deve ser compreendida como parte de um processo mais amplo: o letramento, que se configura como um processo de apropriação dos usos da leitura e da escrita nas diferentes práticas sociais.
Nessa perspectiva, um leitor competente é aquele que usa a linguagem escrita - e, portanto, a leitura - efetivamente, em diferentes circunstâncias de comunicação; é aquele que se apropriou das estratégias e dos procedimentos de leitura característicos das diferentes práticas sociais das quais participa, de tal forma que os utiliza no processo de (re)construção dos sentidos dos textos.
Esses procedimentos e estratégias de leitura tanto são individuais e caracterizados como processos cognitivos de alta complexidade, quanto sociais, sendo decorrentes das especificidades das práticas sociais nas quais se realizam.
Além disso, também os elementos do contexto de produção dos textos devem ser considerados no processamento dos sentidos, dado que colocam restrições - e ao mesmo tempo possibilidades - que determinam os textos. (Veja na tabela abaixo como trabalhar com o tema em sala de aula).
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:: As estratégias de leitura
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:: Os procedimentos de leitura
Toda leitura que fazemos é orientada pelos objetivos e finalidades que temos ao realizar a leitura, e estes objetivos determinam a escolha de procedimentos que tornarão o processo de leitura mais eficaz. Assim:
Nessa perspectiva, qual é a tarefa que cabe à escola?
:: Referências bibliográficas
BAKHTIN, Mikail. [1930a]. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1981.
_____ [1930b]. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
GARCEZ , Lucia Helena do Carmo. A construção social da leitura. In www.proler.bn.br
GOODMAN, K. S. O processo de leitura: considerações a respeito das línguas e do desenvolvimento. In: PALACIOS, M.; FERREIRO, E. Os processos de leitura e de escrita: novas perspectivas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.
KLEIMAN, Ângela. Oficina de leitura teoria e prática. Campinas: Pontes, 1993.
_____.Texto e leitor. Aspectos cognitivos da leitura. Campinas: Pontes, 1989.
SMITH, Frank. Compreendendo a leitura: uma análise psicolingüística da leitura e do aprender a ler.Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura e de escrita.Porto Alegre: Artmed, 1998.
ORLANDI, Eni P. Discurso & leitura. São Paulo/Campinas: Cortez/Editora da UNICAMP, 1988.
A informação é sempre escrita, seja nos materiais das bancas de jornal, seja nas placas e outdoors Foto: Reprodução |
Sabemos que esta demanda não é exclusiva do Brasil, mas uma questão mundial, que hoje exige o domínio da linguagem escrita como condição para a produção e acesso ao conhecimento.
Sobretudo a leitura é requerida para que se possa ter acesso a informações veiculadas das mais diversas maneiras: na Internet, na televisão, em outdoors espalhados pelas cidades, em cartazes afixados, sistematicamente, nos muros das ruas, nas mais diferentes placas informativas, folders, impressos de propaganda, distribuídos insistentemente aos transeuntes, e, até mesmo, em receitas médicas e bulas de remédios.
No entanto, não é apenas para o mundo do trabalho que esse conhecimento é importante. Para a ampliação da participação social e exercício efetivo da cidadania ser um usuário competente da linguagem escrita é, também, condição fundamental.
É decorrente dessa compreensão a necessidade que hoje se coloca para a escola: a de possibilitar ao aluno uma formação que lhe permita compreender criticamente as realidades sociais e nela agir, sabendo, para tanto, organizar sua ação. Para isso, esse aluno precisa apropriar-se do conhecimento e de meios de produção e de divulgação desse conhecimento.
Nas sociedades letradas, como a nossa, esse processo de apropriação está estreitamente ligado ao conhecimento da linguagem escrita, principalmente no que se refere à leitura.
Esse conhecimento, tal como hoje compreendemos, refere-se a um grau ou tipo de letramento que inclui tanto saber decifrar o escrito, quanto ler/escrever com proficiência de leitor/escritor competente, quer dizer, saber utilizar nas práticas sociais de leitura e de escrita as estratégias e procedimentos que conferem maior fluência e eficácia ao processo de produção e atribuição de sentidos aos textos com os quais se interage.
No que se refere especificamente à leitura, o que isso significa?
Leitura: uma prática social
Leitura: processo individual e dialógico
Letramento e leitura
As estratégias de leitura
Os procedimentos de leitura
:: Leitura: uma prática social
ilustração de Michele Iacocca |
Os textos terão características bastante diferentes, proporcionais à variedade de cada revista e serão organizados em gêneros típicos da mídia impressa: artigos, reportagens, notícias, notas, classificados, propagandas, editorial, crônicas, por exemplo.
Em uma missa da igreja católica costumam circular os textos religiosos que constam da Bíblia, de missais e folhetos que orientam a participação no ritual. Nestas ocasiões, lê-se supostamente para retirar do texto algum ensinamento - já que os textos a serem lidos foram selecionados especificamente com esta finalidade -, ou para acompanhar o ritual, sabendo quais falas deverão ser realizadas. Nessa situação, é costume realizar leituras em voz alta, individualmente e em coro. A leitura que se realiza nesse espaço, quando se trata da Bíblia, é de pequenos trechos, não se tratando, dessa forma, de uma leitura exaustiva. Quando se trata dos missais ou dos folhetos orientadores, a leitura é quase instrucional, visto que orienta as pessoas sobre o que devem dizer nos diferentes momentos do ritual.
Quando se está em casa e se toma um romance para ler por entretenimento, por exemplo, a leitura será sempre extensiva (a obra toda, linearmente), ainda que realizada parte a parte.
Ilustração de Michele Iacocca |
Assim como coexistem diferentes práticas sociais em uma mesma sociedade, em um único momento histórico, diferentes sociedades estabeleceram diversos usos para a escrita e a leitura ao longo da sua história.
Como afirma Marisa Lajolo:
"Em algumas sociedades, leitura e escrita eram privilégio de sacerdotes ou de governantes. Nas sociedades ocidentais - entre elas a nossa - embora tivessem nascido e se fortalecido na esteira da administração governamental e da catequese cristã, escrita e leitura muito cedo ganharam usos cotidianos. Assim, além de repartições de governo, altares e púlpitos de igrejas, ambientes domésticos como salas de costura e varandas de fazendas, ao lado de pátios de hospedarias pousos de tropeiro e feiras livres transformaram-se em cenários de leitura. Nesses espaços ora públicos ora privados, mas sempre coletivos, se liam e se ouviam ler textos muito diferentes daqueles que interessavam diretamente ao governo e à Igreja. Nesses espaços lia-se ficção (novelas, crônicas e romances) e ouvia-se poesia".
A leitura, como prática social, é, portanto, histórica.
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:: Leitura: processo individual e dialógico
Ilustração de Nilesh Mistry |
Um texto é sempre produzido em um determinado momento histórico no qual se encontra definido um determinado horizonte de expectativas, derivado de um conjunto de conhecimentos e informações disponível e compartilhado pelos possíveis interlocutores - em maior ou menor medida. Assim, quando um texto é produzido, alguns sentidos são pretendidos pelo autor, sentidos decorrentes da forma de compreender o mundo constituída naquele momento histórico específico e em uma determinada cultura.
Uma leitura, igualmente, é decorrente do conjunto de conhecimentos e informações disponível no momento histórico em que a leitura se realiza, o qual constitui uma determinada forma de ver o mundo.
Desse modo, ao lermos uma obra escrita em meados do século XVIII, por exemplo, certamente nos depararemos com determinados ideais estéticos de beleza feminina e masculina, com determinadas referências de educação e cultura que, podem não corresponder, necessariamente, aos que hoje circulam na nossa sociedade. Por exemplo: uma pele alva, e uma mulher "cheia de carnes" podem não corresponder à referência estética de beleza feminina de hoje, na sociedade brasileira (certamente, não corresponderá nunca aos ideais estéticos dos países de cultura africana...). Da mesma forma, o hábito de a mulher andar sempre protegida por uma "sombrinha", o significado conferido ao ato de corar diante de uma fala um pouco mais atrevida de um homem, o efeito que provocava nos homens a visão de um tornozelo feminino, não são os mesmos que circulam hoje, na nossa cultura.
A evolução da escrita, do ponto de vista da tecnologia (Reprodução) |
Assim, o processo de construção dos sentidos de uma obra de tal época será resultado do que for possível ao leitor de hoje compreender (e recuperar) sobre os valores que circulavam quando a obra foi produzida. Essa compreensão se dará de maneira circunscrita em um horizonte cultural atual, que pressupõe outros valores; portanto, os sentidos não serão os mesmos que circulavam no contexto cultural de origem da obra, mas aqueles que forem possíveis ao leitor hoje, que resultarão permeados das nuances dos valores atualmente vigentes.
Um aspecto importante de salientarmos é o fato de que as palavras são constituídas por um significado estável e recuperável pelos falantes de uma determinada língua em um determinado momento histórico -, e também por um conjunto de sentidos decorrentes das experiências pessoais de cada um, constituídos a partir das referências particulares de cada falante ao logo da vida. Significado e sentidos constituem um amálgama indissolúvel, de tal forma que uma palavra nunca será a mesma para diferentes pessoas, embora possa ser compreendida no que tem de generalizável.
Assim, ainda que lida por sujeitos que vivam em um mesmo momento histórico, uma palavra nunca será a mesma para diferentes sujeitos. Os sentidos de um texto, portanto, ao mesmo tempo em que são resultado de um processo pessoal e intransferível, dialogam, inevitavelmente com o outro: o autor, os outros sujeitos presentes no corpo de idéias que constituía o horizonte cultural do momento de sua produção. A leitura, assim, é pessoal e, ao mesmo tempo, dialógica.
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:: Letramento e leitura
A leitura, além disso, deve ser compreendida como parte de um processo mais amplo: o letramento, que se configura como um processo de apropriação dos usos da leitura e da escrita nas diferentes práticas sociais.
Nessa perspectiva, um leitor competente é aquele que usa a linguagem escrita - e, portanto, a leitura - efetivamente, em diferentes circunstâncias de comunicação; é aquele que se apropriou das estratégias e dos procedimentos de leitura característicos das diferentes práticas sociais das quais participa, de tal forma que os utiliza no processo de (re)construção dos sentidos dos textos.
Esses procedimentos e estratégias de leitura tanto são individuais e caracterizados como processos cognitivos de alta complexidade, quanto sociais, sendo decorrentes das especificidades das práticas sociais nas quais se realizam.
Além disso, também os elementos do contexto de produção dos textos devem ser considerados no processamento dos sentidos, dado que colocam restrições - e ao mesmo tempo possibilidades - que determinam os textos. (Veja na tabela abaixo como trabalhar com o tema em sala de aula).
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:: As estratégias de leitura
-
Ilustração de Michele Iacocca - de anteciparmos informações que podem estar contidas no texto a ser lido;
- de realizarmos inferências quando lemos, quer dizer, lermos para além do que está nas palavras do texto, lermos o que as palavras nos sugerem;
a) de localizarmos informações presentes no texto;
b) de conferirmos as inferências e antecipações realizadas ao longo do processamento do texto, de forma a podermos validá-las ou não;
c) de sintetizarmos as informações dos trechos do texto;
d) de estabelecermos relações entre os diferentes segmentos do texto;
e) de estabelecermos relações entre tudo o que o texto nos diz e o que outros textos já nos disseram, e o que sabemos da vida, do mundo e das pessoas.
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:: Os procedimentos de leitura
Toda leitura que fazemos é orientada pelos objetivos e finalidades que temos ao realizar a leitura, e estes objetivos determinam a escolha de procedimentos que tornarão o processo de leitura mais eficaz. Assim:
a) se estamos realizando uma pesquisa sobre determinado assunto, investigaremos quais obras podem abordar esse assunto, selecionando as que nos parecerem adequadas para uma leitura posterior: leremos o título, identificaremos o autor, leremos a apresentação da obra, procurando antecipar se há alguma possibilidade de aquele portador tratar do assunto; procuraremos no índice se há algum capítulo ou seção que aborde o tema, por exemplo;
b) nessa mesma pesquisa, selecionada a obra, procuraremos ler apenas os tópicos referentes ao assunto de nosso interesse, e não, necessariamente, a obra toda;
c) se estivermos estudando determinada questão, leremos o texto intensivamente, procurando compreender o máximo do que foi dito pelo autor;
d) se estivermos procurando revisar nossos textos para torná-los mais adequados, um dos nossos procedimentos será buscarmos todos os elementos que possam provocar um efeito de sentido diferente daquele que pretendemos e eliminá-los.
Como vemos, os objetivos que orientam a leitura podem ser vários:
a) ler para obter uma informação específica;A estes objetivos correspondem também vários procedimentos:
b) ler para obter uma informação geral;
c) ler para seguir instruções (de montagem, de orientação geográfica);
d) ler para aprender;
e) ler para revisar um texto;
f) ler para construir repertório - temático ou de linguagem - para produzir outros textos;
g) ler oralmente para apresentar um texto a uma audiência (numa conferência, num sarau, num jornal);
h) ler para praticar a leitura em voz alta para uma situação de leitura dramática, de gravação de áudio, de representação;
i) reler para verificar se houve compreensão;
j) ler por prazer estético.
a) uma leitura integral (leitura seqüenciada e extensiva de um texto);Ter clareza dos objetivos que orientam a nossa leitura nos possibilitará selecionarmos os procedimentos mais adequados para realizá-la.Ler, como se vê, é uma atividade complexa. A proficiência leitora envolve o domínio dos aspectos discutidos acima.
b) uma leitura inspecional (quando se utiliza de expedientes de escolha de textos para leitura posterior);
c) uma leitura tópica (para identificar informações pontuais no texto, localizar verbetes em um dicionário ou enciclopédia);
d) uma leitura de revisão (para identificar e corrigir, num texto dado, determinadas inadequações sobre uma referência estabelecida);
e) uma leitura item a item (para realizar uma tarefa seguindo comandos que pressupõem uma ordenação necessária);
f) uma leitura expressiva.
Nessa perspectiva, qual é a tarefa que cabe à escola?
:: Referências bibliográficas
BAKHTIN, Mikail. [1930a]. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1981.
_____ [1930b]. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
GARCEZ , Lucia Helena do Carmo. A construção social da leitura. In www.proler.bn.br
GOODMAN, K. S. O processo de leitura: considerações a respeito das línguas e do desenvolvimento. In: PALACIOS, M.; FERREIRO, E. Os processos de leitura e de escrita: novas perspectivas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.
KLEIMAN, Ângela. Oficina de leitura teoria e prática. Campinas: Pontes, 1993.
_____.Texto e leitor. Aspectos cognitivos da leitura. Campinas: Pontes, 1989.
SMITH, Frank. Compreendendo a leitura: uma análise psicolingüística da leitura e do aprender a ler.Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura e de escrita.Porto Alegre: Artmed, 1998.
ORLANDI, Eni P. Discurso & leitura. São Paulo/Campinas: Cortez/Editora da UNICAMP, 1988.
Texto original: Katia Lomba Bräkling
Edição: Equipe EducaRede
(Março/2003)
Edição: Equipe EducaRede
(Março/2003)
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