Escrita e produção de texto na escola
A atividade de escrita, como vimos, supõe conhecimento dos gêneros. Uma das razões que podem justificar as dificuldades de produção (ou de compreensão) de textos que todos nós temos é a falta de domínio de um gênero — e de seu contexto de circulação — por não termos tido muito contato com ele ou, mesmo, por desconhecê-lo.
É preciso considerar que podemos não aprender todos os gêneros que circulam nos diferentes grupos sociais que freqüentamos. Podemos conhecer de perto a esfera jornalística, por exemplo, sem que isso signifique que saibamos produzir um artigo de opinião, ou uma reportagem; podemos circular pelo meio literário sem que sejamos escritores, romancistas ou poetas.
É preciso reconhecer, ainda, que não freqüentamos todas as esferas sociais. Há pessoas que não freqüentam o meio religioso, ou o acadêmico, por exemplo.
Segundo Bakhtin,
Em outras palavras, a aprendizagem da linguagem é constante, pois sempre será possível nos encontrarmos em situações nas quais deveríamos utilizar gêneros que não conhecemos tão bem, ou até que desconhecemos.
Assim, se não tivermos acesso a determinados gêneros e a sua aprendizagem for fundamental para a nossa formação, precisamos aprendê-lo. E é aqui que entra a escola: ela precisa assumir a tarefa de ensinar a seus alunos as características dos gêneros mais complexos, que não são aprendidos espontaneamente nas situações do cotidiano, pois quanto maior for o domínio que tivermos sobre os gêneros e quanto mais gêneros conhecermos, maior facilidade de compreensão e de produção de textos teremos, maior será a possibilidade de atingirmos nossos objetivos discursivos.
Além disso, é preciso que a escola organize situações de aprendizagem que tematizem questões relativas:
Ilustração: Michele Iacocca |
É preciso considerar que podemos não aprender todos os gêneros que circulam nos diferentes grupos sociais que freqüentamos. Podemos conhecer de perto a esfera jornalística, por exemplo, sem que isso signifique que saibamos produzir um artigo de opinião, ou uma reportagem; podemos circular pelo meio literário sem que sejamos escritores, romancistas ou poetas.
É preciso reconhecer, ainda, que não freqüentamos todas as esferas sociais. Há pessoas que não freqüentam o meio religioso, ou o acadêmico, por exemplo.
Segundo Bakhtin,
“Muitas pessoas que dominam muito bem a língua se sentem, entretanto, totalmente desamparadas em algumas esferas de comunicação, precisamente porque não dominam os gêneros criados por essas esferas. Não raro, uma pessoa que domina perfeitamente o discurso de diferentes esferas da comunicação cultural, que sabe dar uma conferência, levar a termo uma discussão científica, que se expressa excelentemente em relação a questões públicas, fica, não obstante, calada ou participa de uma maneira muito inadequada numa conversa trivial de bar. Nesse caso, não se trata da pobreza de vocabulário nem de um estilo abstrato; simplesmente trata-se de uma inabilidade para dominar o gênero da conversação mundana, que provém da ausência de noções sobre a totalidade do enunciado, que ajudem a planejar seu discurso em determinar forma composicionais e estilísticas (gêneros) rápida e fluentemente; uma pessoa assim não sabe intervir a tempo, não sabe começar e terminar corretamente (apesar desses gêneros serem muito simples)”.(Bakhtin , M. M.(1952/53). Os gêneros do discurso.
In Estética da criação verbal. Martins Fontes, São Paulo. 1992.)
Em outras palavras, a aprendizagem da linguagem é constante, pois sempre será possível nos encontrarmos em situações nas quais deveríamos utilizar gêneros que não conhecemos tão bem, ou até que desconhecemos.
Assim, se não tivermos acesso a determinados gêneros e a sua aprendizagem for fundamental para a nossa formação, precisamos aprendê-lo. E é aqui que entra a escola: ela precisa assumir a tarefa de ensinar a seus alunos as características dos gêneros mais complexos, que não são aprendidos espontaneamente nas situações do cotidiano, pois quanto maior for o domínio que tivermos sobre os gêneros e quanto mais gêneros conhecermos, maior facilidade de compreensão e de produção de textos teremos, maior será a possibilidade de atingirmos nossos objetivos discursivos.
Além disso, é preciso que a escola organize situações de aprendizagem que tematizem questões relativas:
Poderíamos dizer, nessa perspectiva, que a escola deve criar situações de aprendizado nas quais os alunos possam: a) compreender a natureza da linguagem; b) conhecer e participar de práticas de linguagem que se realizam em instâncias públicas de comunicação, que sejam relevantes para o exercício da cidadania; c) entender que o discurso produzido será tão mais eficaz quanto mais adequado for às características da situação de comunicação e do gênero do discurso; d) compreender as características dos gêneros do discurso que circulam em instâncias públicas de linguagem, que sejam relevantes para o exercício da cidadania; e) conhecer e ajustar o seu discurso às características do contexto de produção e circulação previstos; f) utilizar procedimentos de escrita, articulando-os, de modo a tornar o texto mais eficaz; g) empregar os conhecimentos lingüísticos — textuais, gramaticais, notacionais — pra escrever textos eficazes. Mas a quem cabe essa tarefa na escola?
A questão é similar ao que apontamos com relação à leitura. Cabe aos professores de todas as áreas conhecer os aspectos e conhecimentos envolvidos na produção dos textos, mas não tomá-los, propriamente, como objetos de ensino. Assim, se um professor de História pretende que seu aluno escreva um texto no qual discuta se o descobrimento do Brasil aconteceu por acaso ou intencionalmente, precisa saber que esse aluno deverá ter algum conhecimento a respeito do gênero no qual o seu texto se organizará – um artigo de opinião, por exemplo. Caso contrário, o resultado da escrita poderá não ser fiel ao conhecimento da área que ele possui, quer dizer, pode ser que ele não realize a tarefa proposta não porque não consiga se posicionar a respeito da questão, mas porque não tem domínio do gênero. Assim, ao professor da área caberá conhecer as operações necessárias à produção desse texto (argumentação, refutação, negociação, definição de posição, por exemplo), para poder reconhecer qual a dificuldade enfrentada pelo aluno — se relativa ao conteúdo ou ao gênero — e poder orientá-lo. Da mesma forma, um professor de Matemática precisa saber qual a especificidade dos gêneros que circulam em sua área para poder auxiliar o aluno na sua produção e leitura, conseguindo identificar quando as dificuldades apresentadas referem-se a outros conteúdos e quando se relacionam com as questões da linguagem verbal específica da área. Ler uma situação-problema, por exemplo, ou produzir uma (por escrito ou oralmente), não é uma questão apenas de Matemática; é preciso conhecer o gênero:
Nessa perspectiva, cabe ao professor de Língua Portuguesa tomar como objeto de ensino os aspectos mencionados acima. Esse é o seu objeto. Aos demais, cabe conhecer tais conteúdos para utilizá-los na sua intervenção, não para os tomr como objeto de ensino. De maneira geral, podemos dizer que os conteúdos de ensino de Língua Portuguesa precisarão ser definidos em função das necessidades de aprendizagem dos alunos — que se articulam com as finalidades educativas definidas no projeto pedagógico da escola — e das possibilidades de aprendizagem colocadas (que se definem em relação ao grau de complexidade do objeto de ensino e em relação à dificuldade colocada para a tarefa a ser realizada). Os conteúdos de escrita, nessa perspectiva, devem ser definidos de maneira que possam ser retomados ao longo do Ensino Fundamental (ou mesmo do Ensino Médio). Assim, a cada vez que forem trabalhados, poderão ser tratados com maior aprofundamento, com maior sistematização, permitindo que, por meio de sucessivas aproximações, o aluno vá se apropriando de conhecimentos que o tornem um melhor escritor. De acordo com os PCNs de LP para 5ª a 8ª série, “no que concerne à prática de produção de texto, (…) a produção de um artigo de opinião, por exemplo, pode estar colocada em diferentes ciclos, ou, ainda, em diferentes momentos do mesmo ciclo, pressupondo níveis diferenciados de domínio do gênero. Podem-se tanto priorizar aspectos a serem abordados nas diferentes ocasiões, quanto estabelecer graus de aprofundamentos diferentes para os mesmos aspectos nas diferentes situações”. O fundamental, no ensino de Língua Portuguesa, é que as práticas de escrita que se realizam fora da escola freqüentem a sala de aula, de modo a possibilitar ao aluno o aprendizado de todos os conhecimentos com os quais se opera nessas situações. É isso que poderá possibilitar a ele a construção de sua proficiência escritora. Uma recomendação é imprescindível: que o professor, ao organizar a atividade de escrita, apresente ao aluno (ou defina com ele) as características do contexto de produção: Essas características impõem restrições aos textos — determinando escolhas — as quais devem ser respeitadas, sob pena de o texto resultar ineficaz. Texto original: Kátia Bräkling Edição: Equipe EducaRede |
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