Colegio
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Língua
Portuguesa
Nome:
____________________________________ Ano _____ Turma _____
Literatura Oral e Tradicional
Em todos os tempos e em todos os
continentes surgiram histórias criadas pelo povo e que, portanto, têm origem
popular, colectiva e fazem parte da tradição de cada comunidade. Contadas
oralmente de geração em geração, passaram muitas vezes de umas regiões para as
outras, através dos mercadores e outros viajantes. O conjunto desses textos
transmitidos oralmente constitui a literatura oral e tradicional.
Algumas das grandes obras que hoje
são património da humanidade começaram por ser relatos orais. É o caso de As
Mil e Uma Noites, da Odisseia, das Fábulas de Esopo.
Em determinados momentos, alguns
escritores e investigadores passaram para escrito esses textos, nascidos
anonimamente e conservados na memória popular, fixando-os em livro, para que
não se perdessem. Por exemplo, no século XVII, Perrault e, no século XIX, os
Irmãos Grimm recolheram e publicaram os contos que fizeram a nossa delícia
quando éramos crianças: «A Bela Adormecida», «A Cinderela», “Rapunzel”, «A Bela
e o Monstro» e tantos, tantos outros.
Em Portugal, escritores como Almeida
Garrett, Teófilo Braga, Adolfo Coelho, Consiglieri Pedroso, José Leite de
Vasconcelos dedicaram parte da sua vida a recolher e a publicar contos
populares e outros textos da literatura oral e tradicional.
De entre os diversos tipos de textos que constituem
esse património literário oral, destacamos os seguintes:
Conto popular
O conto tradicional (ou popular) é
uma narrativa breve, concentrada numa só situação e com um reduzido número de
personagens.
É de tradição oral, tem a sua origem
no povo anónimo e pertence a um património universal e intemporal. Existe nos
diferentes povos e culturas, desde os tempos primitivos. Tem uma função lúdica
e transmite uma moralidade.
O tempo é indeterminado e o espaço,
geralmente, também o é.
Os temas são variados: a mulher
(teimosa, desmazelada, gulosa, etc.); a infidelidade; a fidelidade; o engano; o
homem dominado pela mulher; a superstição, a feitiçaria, a magia; a crença no
destino, etc.
No que respeita às personagens,
encontra-se uma imensa galeria de personagens astuciosas, engenhosas,
irreverentes e maliciosas que se servem de ardis bem imaginados, de manhas e de
espertezas para atingirem os seus objectivos.

Era uma
vez um homem muito velho que tinha na sua companhia um neto, filho de uma sua
filha já falecida, como falecido era o marido desta. Teve o velho de ir a uma
feira vender um jumento e como o neto era rapazola muito turbulento, não o quis
deixar sozinho em casa, e levou-o consigo. O jumento era já adiantado em anos e
o velho para não o estropiar resolveu levá-lo adiante, caminhando a pé avô e
neto. Passaram a um lugar onde estava muita gente a brincar na estrada.
– Olhem
aqueles brutos! Vão a pé atrás do burro que se não dá da tolice dos donos.
O velho
disse ao neto que se pusesse em cima do burro.
Mais
adiante passaram próximo doutros sujeitos que se puseram a dizer:
– O
mariola do garoto montado, e o velho a pé; o que um tem de esperto tem o outro
de bruto. O velho então mandou apear o neto e ele montou-se no burro.
Mais
adiante começaram a gritar:
– Olhem
o velho se é manhoso! A pobre da criança a pé e ele repimpado no burro.
– Salta
para cima do burro – ordenou o velho ao neto.
O
garoto não esperou que o avô repetisse a ordem e lá foram os dois sobre o
jumento. Andaram assim alguns passos e logo viram muita gente sair-lhes à
estrada, cheia de indignação e gritando ameaçadora:
–
Infames! Criminosos! Canalhas! Matar o animalzinho com o peso de dois alarves,
podendo ir a pé.
O velho
e a criança foram obrigados a descer do burro.
Então
disse o avô ao neto:
– É
para que saibas o que são as línguas do mundo: preso por ter cão e preso por o
não ter.
In José Gomes Ferreira, Contos
Tradicionais Portugueses, Iniciativas Editoriais
Parábola

Parábola
dos Sete Vimes
Era uma
vez um pai que tinha sete filhos. Quando estava para morrer, chamou-os todos
sete e disse-lhes assim:
-
Filhos, já sei que não posso durar muito; mas, antes de morrer, quero que cada
um de vós me vá buscar um vime[1] seco e mo traga aqui.
-
Eu também? -
perguntou o mais pequeno, que só tinha 4 anos. O mais velho tinha 25, e era um
rapaz muito reforçado e o mais valente da freguesia.
-
Tu também -
respondeu o pai ao mais pequeno.
Saíram os sete filhos; e daí a
pouco tornaram a voltar, trazendo cada um o seu vime seco.
O pai pegou no vime que trouxe o
filho mais velho, e entregou-o ao mais novinho, dizendo-lhe:
-
Parte esse vime.
O pequeno partiu o vime, e não
lhe custou nada a partir. Depois o pai entregou outro ao filho mais novo, e
disse-lhe:
-
Agora, parte também esse.
O pequeno partiu-o; e partiu, um
a um, todos os outros, que o pai lhe foi entregando, e não lhe custou nada a
parti-los todos. Partindo o último, o pai disse outra vez aos filhos:
- Agora ide por outro vime e trazei-mo.
Os
filhos tornaram a sair, e dali a pouco estavam outra vez ao pé do pai, cada um
com o seu vime.
- Agora dai-mos cá -
disse o pai.
E
dos vimes todos fez um feixe[2], atando-os com um vincelho[3]. E voltando-se para o
filho mais velho, disse-lhe assim:
- Toma este feixe! Parte-o!
O
filho empregou quanta força tinha, mas não foi capaz de partir o feixe.
- Não podes? -
perguntou ele ao filho.
- Não, meu pai, não posso.
- E algum de vós é capaz de o partir?
Experimentai.
Não
foi nenhum capaz de o partir, nem dois juntos, nem três, nem todos juntos.
O
pai disse-lhes então:
- Meus filhos, o mais pequenino de vós partiu sem
lhe custar nada todos os vimes, enquanto os partiu um a um; e o mais velho de
vós não pôde parti-los todos juntos; nem vós, todos juntos, fostes capazes de
partir o feixe. Pois bem, lembrai-vos disto e do que vos vou dizer: enquanto
vós todos estiverdes unidos, como irmãos que sois, ninguém zombará de vós, nem
vos fará mal, ou vencerá. Mas logo que vos separeis, ou reine entre vós a
desunião, facilmente sereis vencidos.
Acabou
de dizer isto e morreu -
e os filhos foram muito felizes, porque viveram sempre em boa irmandade
ajudando-se sempre uns aos outros; e como não houve forças que os desunissem,
também nunca houve forças que os vencessem.
Lenda
A lenda é uma narrativa breve que
assenta em factos reais, modificados pelo imaginário
colectivo, localizáveis no tempo e no espaço, ou
apenas no espaço ou no tempo.
Porque ao fundo real é acrescentada a
intervenção de entidades benéficas ou maléficas, a lenda resulta numa mistura
de realidade e fantasia.
A lenda tem, geralmente, fundamento
histórico, mas isso nem sempre se verifica; por vezes, as lendas são narrativas
que explicam fenómenos físicos ou aspectos da natureza (vegetal, animal ou
mineral).
Lenda do Milagre de Ourique
A lenda conta que um pouco antes da
Batalha de Ourique, D. Afonso Henriques foi visitado por um velho homem, que o
rei já tinha visto em
sonhos. O homem fez-lhe uma revelação profética da vitória.
Disse-lhe também para, na noite seguinte, sair do acampamento sozinho, logo que
ouvisse a sineta da ermida onde o velho vivia. O rei assim fez. Um raio de luz
iluminou tudo em seu redor, deixando-o distinguir, aos poucos, o Sinal da Cruz
e Jesus Cristo crucificado. Emocionado, ajoelhou-se e ouviu a voz do Senhor que
lhe prometeu a vitória naquela e noutras batalhas. No dia seguinte, D. Afonso
Henriques venceu a batalha.
Conforme reza a lenda, D. Afonso
Henriques decidiu que a bandeira portuguesa passaria a ter cinco escudos, ou
quinas, em cruz, representando os cinco reis vencidos e as cinco chagas de
Cristo.
Fábula
A fábula é uma narrativa
breve de acontecimentos imaginários, na qual o autor, para moralizar e/ou
divertir, foca os defeitos e as qualidades do Homem através de animais que agem
como pessoas.
São especialmente famosos os seguintes autores:
. O grego Esopo (séc. VI a.C.); o romano Fedro (séc. I
a.C.); .o francês La Fontaine (séc. XVII); o português Bocage (séc. XVIII); o português
João de Deus (séc. XX).
A RAPOSA E A CEGONHA

De convidar para a ceia a Comadre Cegonha.
A raposa é mesquinha: só havia
Umas papas de milho, uma vergonha!
E o pior deste caso
É que as mandou servir num prato raso.
Dona Cegonha bem estendia o bico:
Debicou, debicou, mas não comeu fanico,
E a raposa atrevida
Lambeu as papas todas de seguida.
Dias mais tarde, para se vingar,
Foi a vez de a cegonha a convidar.
«Com muito gosto», volve a outra a toda a pressa,
«Eu não sou de cerimónias, ora essa!»
E à hora combinada, à hora em ponto,
Lá foi bater à porta da cegonha.
Entrou, cumprimentou muito risonha,
E achou o jantar pronto.
Do apetite não lhes digo nada,
Que a raposa anda sempre esfomeada,
E toda se lambia
Ao cheiro que sentia
Da vitela guisada.
Serviram-lhe o pitéu, para a castigar,
Numa vasilha de gargalo esguio.
O bico da cegonha, esse, podia lá entrar,
Mas o focinho da comadre era de outro feitio.
Lá voltou em jejum para casa, corrida,
De rabinho entre as pernas e de orelha caída.
Manhosos aldrabões, o conto é para vocês,
Já ficam avisados:
Há-de chegar-lhes, tarde ou cedo, a vez
De serem enganados.
La Fontaine, Fábulas, Editorial Verbo
Romances
populares
O romance tradicional (ou popular) é
um breve poema épico destinado ao canto e transmitido de geração em geração por
tradição oral.
O conjunto destes breves poemas
narrativos tradicionais constituem o Romanceiro e o primeiro Romanceiro
português deve-se a Almeida Garrett.
A Bela Infanta – manual: Pág.
Oração ou reza
A
oração é uma invocação aos deuses ou aos santos, de tradição oral popular, com
o objectivo de receber algumas graças ou protecções
Oração para afastar os Ratos
|
Responso ao Santo António
Eu responso o [objecto perdido] de N.
Ao meu Padre São António,
Ao Santíssimo Sacramento,
Às três arricas que lá estão dentro,
E às três missas de Natal.
Eu peço ao meu Padre de São António,
Por alminha de sua Santa Tia Madrinha,
Que se o [objecto perdido] o meu Padre São António
Dele guardar e às mãos dela vá parar,
Eu ao meu Padre São António e à sua Santa Tia Madrinha
Pai Nossos e Avé Marias lhe hei-de rezar
|
Lengalengas
A lengalenga constitui
um discurso que se baseia na repetição – de sons, de rimas, de palavras ou expressões,
de estruturas textuais. É construída com o encadeamento, paralelismo e
enumeração, que facilita a sua memorização para a transmissão oral.
O
trigo disse pr`ó centeio:
- Cala-te lá centeio, centeiaço.
Que tu não fazes.
Que tu não fazes.
As funções que eu faço.
O centeio disse pr`ó trigo:
- Cala-te lá trigo espademudo.
Que tu não acodes.
Que tu não acodes.
Ao que eu acudo.
- Cala-te lá centeio, centeiaço.
Que tu não fazes.
Que tu não fazes.
As funções que eu faço.
O centeio disse pr`ó trigo:
- Cala-te lá trigo espademudo.
Que tu não acodes.
Que tu não acodes.
Ao que eu acudo.
Então
a aveia disse:
- Eu sou a aveia magra e feia,
quem me tiver em casa,
não vai para a cama sem ceia!
- Eu sou a aveia magra e feia,
quem me tiver em casa,
não vai para a cama sem ceia!
Adivinha
É um enigma, uma
charada, algo para descobrir, que foi sendo transmitido de geração em geração.
Eu abro do amor as portas,
Da vida às portas encerro; Permaneço em coisas tortas, Mas não em monte ou desterro. |
Já
que tens entendimento
E és amigo de saber: Uma pedra em cima da água, Diz-me lá se pode ser? |
Ó
que lindos amores eu tenho!
Ó que lindos, ó que ingratos! Andam por dentro das botas E por fora dos sapatos |
Provérbio
O provérbio é uma frase geralmente curta, sintética,
que encerra um ensinamento moral, um conselho, ou não fosse este um texto vindo
da boca do povo, que percorreu gerações e que reflecte uma sabedoria milenar.
Para se memorizado mais facilmente, o provérbio exprime, numa linguagem muito
simples, uma lição para a vida.
Quem tudo quer,
tudo perde.
Quem desdenha,
quer comprar.
Devagar se vai
ao longe.
Batendo ferro é
que se fica ferreiro.
Quem com ferro
fere, com ferro será ferido.
Mais vale asno
que me leve do que cavalo que me derrube.
Canção popular
MARIANA
CAMPANIÇA
É tão longe do céu à terra
Como é da morte à vida
Do meu coração ao teu
É uma estrada seguida
Como é da morte à vida
Do meu coração ao teu
É uma estrada seguida
A Mariana Campaniça
Que lindos olhos que tem
Do monte da Légua às Pias
À Missa não vai ninguém
Que lindos olhos que tem
Do monte da Légua às Pias
À Missa não vai ninguém
À Missa não vai ninguém
À Missa já ninguém vai
A Mariana Campaniça
Coitadinha não tem pai
À Missa já ninguém vai
A Mariana Campaniça
Coitadinha não tem pai
Coitadinha não tem pai
E mãe também já não tem
A Mariana Campaniça
Que lindos olhos que tem
E mãe também já não tem
A Mariana Campaniça
Que lindos olhos que tem
Conto recolhido no Concelho
de Castro Verde por alunos do 8.º ano.
O Baguinho de Milho
Informante:
Francisco Jesuíno
Local: Entradas
Era uma vez um
casal que não tinha filhos e então dizia ele. O marido dizia para a mulher:
- Eh, não temos um
filho, não temos nada!
Ainda
era do tempo em que Nosso Senhor andava pelo mundo mais o S. Pedro. Uma noite
aparece lá um velhote e diz ele assim:
-
Então, não me dão para aí agasalho, aí esta noite e tal…
-
Aonde? Eu só tenho uma cama onde durmo com a mulher. Tenho ali um palheiro.
- É mesmo num
palheiro que a gente se interessa.
Estiveram jogando à
carta e essa coisa toda, depois falaram na vida:
- Eh, não tenho um
filho, há uns quinze anos que estou casado, não tenho um filho. Dizem que há
para aí Deus Nosso Senhor mais o S. Pedro, nem que me desse para aí um filho do
tamanho de um bago de milho.
O homenzito não
disse nada, foi-se embora noutro dia de manhã e não disse nada. A mulherzinha
engravidou. Teve um filho do tamanho de um bago de milho. O moço não crescia
mais um dia que o outro, sempre daquele tamanho. O moço tinha já uns quinze
anos e do tamanho de um bago de milho. O pai tinha uma junta de bois e uma
hortinha.
Um dia, assim na
sementeira, diz o marido assim para a mulher:
- Mulher, hoje
vais-me levar o almoço lá ao campo que eu ando lá semeando.
Diz o moço assim:
- Pai e mãe, deixem
ir consigo.
- Não, o que tu
vais lá fazer, és uma coisa tão pequenina, então, andas sempre caindo, um bago
de milho, eh, não cresces mais um dia que o outro.
- Mas eu quero ir!
- Eh! Vai lá.. comigo … olha se caíres logo te
alevantas.
Chegou lá, o pai
chegou à ponta do rego, parou e lá ficaram comendo e diz o moço assim para o
pai:
- Pai, deixe-me dar
um rego.
Diz o pai assim:
- Olha, és do
tamanho de um bago de milho (um bago de milho é pequenino, não sei mas deve ser
pequenino)
- Deixe-me dar um
rego, pai!
Diz ele assim:
- Ah!Ah! Mas
olha-me este moço de um cabrão! Dou-te um rego? Alguma vez tu podes com a
charrua?
- Não sei. Sim,
deixe-me lá uma vez a mim experimentar.
- Então, vai lá que
eu quero ver.
O gajo meteu-se
dentro do rego, pegou na aveca e pegou dentro do rego e levou a arelhada. Chegou
lá à ponta, voltou para trás e diz ele assim:
- Olha, posso mais
um reguinho?
- Sim, podes.
Quando ia a tornar
de volta para lá, passou uns homens a cavalo numas parelhas e nuns carros. Viu
o boi e os bois a andarem lavrando sozinhos, não via ninguém e a arelhada
andando e diz ele assim:
- Eh pá, que diabo
é aquilo? Não tinha visto ainda. Olha o pau, nunca tinha visto aquilo, uma
junta de bois lavrando sozinha.
Ele mandou parar os
bois.
- Então, você não
vê que vai aqui um homem, ah, ah, é um trabalho de um cabrão, levam com a
arelhada nos cornos.
Lá foi e depois
voltaram, iam pela estrada… ele mandou os bois parar pelo caminho … vá de
porrada …
- Eh pá, que isso
não é coisa boa que anda aqui! Uma junta sozinha lavrando.
Depois o pai voltou
para trás e diz ele assim:
- Olha lá, filho,
tu se quiseres, fica aí lavrando a tarde inteira.
Ele disse então:
- Não vê aqueles
homens de um cabrão que não viam que havia aqui um homem.
O pai já sabia que
era do tamanho de uma aranha, nem tão pouco eles o viram.
- Então, ficas aí
lavrando e à tarde, depois soltas os bois e vais andando para além para a
horta. Mas não deixes comer as couves. Bom, está certo, que eu tenho um serviço
para fazer lá no monte, vou lá fazer qualquer coisa, vou mais a tua mãe.
Mas à tarde deu em
morraçar, ora o Bago de Milho em qualquer coisa se agachava. Começou a morraçar
e o que é que ele faz? Mete-se dentro de uma couve, vem lá um boi, come a couve
e come o Bago de Milho. Os dois bois começaram a andar na couve e encheram a
barriga de couves. E o pai lá à espera no monte:
-
Ah moço de um cabrão, então os bois andam nas couves.
Chega
lá à horta e onde o bago de milho respondeu-lhe assim:
-
Pai, mate o nosso boi lombardo que eu estou dentro da barriga dele.
-
Ah moço de um cabrão, agora é que tu me lixaste, agora na força da sementeira.
Agora o que é que eu faço à vida? Venho para casa com os bois.
Todo aborrecido
chega lá a casa e diz:
- Então parece que
vens aborrecido? Então o Bago de Milho?
- Então, O bago de
milho está dentro da barriga do boi. Então, agora o que é que eu faço?
- Então agora, tens
de matar o boi.
O homem, no outro
dia de manhã, pegou no boi e foi lá para um xavanasco e então matou o boi. Quem
é que havia de passar lá? Uma velhota.
- Ah, dei-me um
cadinho de carne ti homem.
- Ah sua velhota
dum cabrão, desaparece daqui que já chateado da cabeça, ando eu, ainda você
quer um cadinho.
- Mas dê-me um
cadinho de carne, com tanta carne que você tem aí, você é ruim, assim e assado.
- Olhe, mais que
não seja, dê-me as tripas.
- Eh, tome lá as
tripas.
Deu-lhe as tripas e
o bago de milho estavam dentro das tripas. O bago de milho dentro das tripas,
tirou o boi, tirou as tripas e o bago de milho dentro da barriga dentro das
tripas. A velha pregou com as tripas à cabeça e era pesado (não havia de ser
pesado), ia pela ladeira acima.
- Pum
Diz ele assim
- Ah sua velha dum
cabrão, você não vê que vai aqui um homem.
A mulher olha para
um lado e para o outro e não vê ninguém.
- Eh porra!
Levanta o passo,
subiu outra ladeira e vai outro peido ainda maior.
- Ah sua velha dum
cabrão, não vê que vai aqui um homem.
Ora a velha olhava
para um lado e para o outro e não via ninguém. (Então havia de ver, se o bago
de milho ia dentro das tripas) Subiu outra ladeira.
- Eh pá!
A velha cagou-se no
alguidar das tripas e foi-se embora. Fugiu e o Bago de Milho dentro das tripas.
E quem é que havia de passar por lá? Um lobo.
- Mmmmm…Teve
cheirando as tripas se cheirava bem ( havia de cheirar bem, cheirava mal), oh
que belo almoço que eu tenho aqui.
Comeu as tripas,
comeu o bago de milho também. Naquilo corta-lhe uma barrigada do bago de milho,
aquilo não teve tempo bem…
O lobo, assim que
lhe passou a barrigada, diz assim:
- Vai ali um
rebanho de ovelhas, leva ali uns borreguinhos pequeninos. Ele vai por além e eu
agora vou por aqui, vou caçar uma ovelha ou um borrego, aquilo que calhar.
Ouve-se uma coisa
lá de dentro:
- Oh moiral, lá vai
lobo, lá vai lobo às ovelhas.
- Ah cães que viram
lobo.
O lobo já havia
oito dias que não comia, já quase que não andava, diz ele assim um dia que
estava lá a uma soalheira e aparecem mais lobos (que nesse tempo os bichos
falavam):
- Compadre Ferrais,
parece que está tão mal encarado?
-Cale-se aí, há uns
oito dias que eu não como, desde que comi uma puta dumas tripas, assim e assim,
umas tripas que eu encontrei, trago aqui uma coisa dentro de mim… Vejo umas
ovelhas e começa uma coisa cá de dento lá vai lobo, oh moiral, lá vai lobo e os
cães quase me apanham, não sei o que é que eu tenho dentro de mim.
- Ó homem, compadre
Ferrais, sabe o que é que você faz, vá à nossa alagoa. (Tinham lá uma alagoa
onde iam beber) Vá à nossa alagoa e você bebe, bebe, bebe, até deitar água pelo
cu, pelas ventas e pela boca. Depois naquela ladeira acima, dá ali uma
carreira, que aquilo pode ser que limpe e lhe passe isso.
- Mas eu não tenho
sede, compadre, eu tenho é fome, não tenho sede.
- Não, compadre
Ferrais, faça lá isso, que isso é bom.
O lobo lá esteve
bebendo, bebendo, de pernas abertas a beber, a beber, já deitava água pelo cu e
pelo nariz e pelos ouvidos, aquilo limpou, foi um clister. O Bago de Milho
saiu, saiu pelo cu do lobo, saiu todo cagado (então não havia de estar).
Diz ele:
- Onde é que eu me
vou lavar?
Foi-se lavar lá à
alagoa.
- Aonde é que eu
estou metido, numa altura destas?
O Bago de Milho
também já tinha fome. O bago de milho lá foi andando, foi andando. Onde é que
ele havia de ir? Onde estavam uns caseirões. O bago de Milho disse:
- É aqui que eu
esta noite fico, anoitecendo. Até que eu venha lá a casa.
O pai nunca mais
soube do Bago de Milho. O pai dele ficou cá com o outro boi. Ele lá esteve, por
essa noite a fora, ele ouve aquela sapateada, a conversar.
- Então, aqui vem
gente! Será que vem?
Era uma companhia
de ladrões, depois chegaram lá ao coiso, prenderam os cavalos e chegaram lá a
uma porta que eles lá têm. Dizem eles assim:
- Abre-te sineta!
A porta abriu-se,
um portão grande, entraram com os cavalos lá para dentro. Ele lá andou lá atrás
dos ladrões.
- Aqui está o
dinheiro, tantos sacos disto, tanto daquilo, tanto daquilo. Vamos lá ver aqui
na casa do moço, se o dinheiro está aqui todo.
Estiveram lá a
contar:
- Um, dois, três,
quatro, cinco, seis, ai, não estão aqui todos.
Lá estiveram
contando xis e tanto, xis e tanto…
- Temos que ir
embora.
O bago de milho
chegou com eles. Eles não o viam, então ele era muito pequenino. Chegou cá à
porta e dizem eles assim, os ladrões:
- Abre-te sineta!
A porta abriu-se.
- Fecha-te sineta!
A porta fechou-se.
O Bago de Milho
saiu cá para fora. Eles foram-se embora nos cavalos e deixaram também lá uns
cavalos também lá presos, assim que eles abalaram, diz ele:
- Agora vou eu
experimentar.
Chegou lá ao pé da
porta.
- Abre-te sineta.
A porta abriu-se.
Vem cá para fora.
- Fecha-te sineta!
(mas o bago de milho cá fora, que a porta não fechasse e ele ficasse lá dentro)
A porta fechou-se
- Abre-te sineta!
A porta abriu-se,
entrou lá para dentro e encheu quatro ou cinco sacos de dinheiro. Arreou um
cavalo, montou os sacos em cima do cavalo e cá vai ele a cavalo no cavalo para
a casa do pai. Chega à casa do pai
- Então, Bago de
Milho, onde tens andado?
- Eh, cale-se, tive
que penar muito, pai. Agora, trago aqui a nossa fortuna. Então e já comprou
outro boi?
- Não, então eu não
posso comprar outro boi. Então, eu tenho algum dinheiro?
- Bem, agora eu
trago aqui dinheiro com fartura.
O compadre dele, o
padrinho dele, era muito invejoso:
- Então, compadre,
já apareceu o meu afilhado?
- Não.
Depois apareceu o
afilhado.
- Então, afilhado,
então aonde é que arranjaste essa fortuna?
- Foi assim, assim,
assim, uma companhia de ladrões chegam lá, para lá tinham vinho, tinham adega,
tinham tudo.
- Hás-de-me
ensinar, ao padrinho.
- Eu ensino, pode
ir, eu já não tenho falta dele, eu já não vou lá.
Ele gostava muito
de vinho e ele foi lá.
- É assim,
padrinho, chega lá ao portão, lá à porta, abre-te sineta, chega cá fora e
fecha-te sineta e aquilo fecha-se sozinho, depois abre-te sineta e está
andando. Há lá dinheiro.
Aquilo demorou
quatro ou cinco dias. Os ladrões, quando vieram na outra noite, acharam um
cavalo a menos e acharam mexido, lá do dinheiro.
- Quem seria o
artista? Quem seria o artista que veio aqui?
Foram a caminho dos
mortos, estavam mexidos à mesma.
- Estes aqui não
foram, eles estão aqui todos. Estes aqui não foram nenhum.
Depois correram as
casas todas.
- Bem, temos que ir
embora. Temos que ir embora. Mas quem será o artista que veio aqui? Se a gente
o apanha aqui, ele deve saber muito bem…
O padrinho dele foi
e ora chegou lá:
- Abre-te sineta.
A porta abriu-se.
-
Fecha-te sineta.
A
porta fechou-se. Ele foi, encheu dois ou três sacos de dinheiro, foi a caminho
da talha do vinho, esteve provando o vinho, provava daquela, provava naquela,
às páginas tantas, embebedou-se. E o que é que acontece? Já não dava com a
porta. Abre-te isto, abre-te aquilo, abre-te joaquim, não dava com o nome da
porta. Daí a nada, os ladrões lá à porta. Eh porra! Não tinha onde se esconder,
escondeu-se debaixo dos mortos. Os ladrões, assim que chegaram lá, viram logo
os sacos cheios de dinheiro.
-
Olha, já cá está o gajo outra vez. Ora, ainda assim, está tramada. Não vês o
cavalo, já preparado para ir embora? O gajo está aqui dentro hoje. Hoje, o gajo
está aqui dentro.
Foram
ver nas casas todas, contaram os mortos, nada, e diz ele assim:
-
Isto está mau. Este artista!
E
diz um assim:
-
Ora escuta lá uma coisa, a gente agora faz aí uma coisa, a gente agora aquece
um ferro em brasa e mete pelo cu de cada morto, mete o ferro em brasa pelo cu,
se algum estiver vivo.. Não seja que algum destes cabrões, esteja vivo e faz
que está morto.
Ora
porra, assim que ele ouve falar em ferros em brasa:
-
Eh pá, eu ferrado não quero ser.
-
Então é você, venha cá.
Mataram-no.
O
bago de milho ficou rico e o outro morreu.
Acabou-se.
![]() |
es gordissima
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