Colegio
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Língua
Portuguesa
Nome:
____________________________________ Ano _____ Turma _____
Literatura Oral e Tradicional
Em todos os tempos e em todos os
continentes surgiram histórias criadas pelo povo e que, portanto, têm origem
popular, colectiva e fazem parte da tradição de cada comunidade. Contadas
oralmente de geração em geração, passaram muitas vezes de umas regiões para as
outras, através dos mercadores e outros viajantes. O conjunto desses textos
transmitidos oralmente constitui a literatura oral e tradicional.
Algumas das grandes obras que hoje
são património da humanidade começaram por ser relatos orais. É o caso de As
Mil e Uma Noites, da Odisseia, das Fábulas de Esopo.
Em determinados momentos, alguns
escritores e investigadores passaram para escrito esses textos, nascidos
anonimamente e conservados na memória popular, fixando-os em livro, para que
não se perdessem. Por exemplo, no século XVII, Perrault e, no século XIX, os
Irmãos Grimm recolheram e publicaram os contos que fizeram a nossa delícia
quando éramos crianças: «A Bela Adormecida», «A Cinderela», “Rapunzel”, «A Bela
e o Monstro» e tantos, tantos outros.
Em Portugal, escritores como Almeida
Garrett, Teófilo Braga, Adolfo Coelho, Consiglieri Pedroso, José Leite de
Vasconcelos dedicaram parte da sua vida a recolher e a publicar contos
populares e outros textos da literatura oral e tradicional.
De entre os diversos tipos de textos que constituem
esse património literário oral, destacamos os seguintes:
Conto popular
O conto tradicional (ou popular) é
uma narrativa breve, concentrada numa só situação e com um reduzido número de
personagens.
É de tradição oral, tem a sua origem
no povo anónimo e pertence a um património universal e intemporal. Existe nos
diferentes povos e culturas, desde os tempos primitivos. Tem uma função lúdica
e transmite uma moralidade.
O tempo é indeterminado e o espaço,
geralmente, também o é.
Os temas são variados: a mulher
(teimosa, desmazelada, gulosa, etc.); a infidelidade; a fidelidade; o engano; o
homem dominado pela mulher; a superstição, a feitiçaria, a magia; a crença no
destino, etc.
No que respeita às personagens,
encontra-se uma imensa galeria de personagens astuciosas, engenhosas,
irreverentes e maliciosas que se servem de ardis bem imaginados, de manhas e de
espertezas para atingirem os seus objectivos.
AS BOCAS
DO MUNDO
Era uma
vez um homem muito velho que tinha na sua companhia um neto, filho de uma sua
filha já falecida, como falecido era o marido desta. Teve o velho de ir a uma
feira vender um jumento e como o neto era rapazola muito turbulento, não o quis
deixar sozinho em casa, e levou-o consigo. O jumento era já adiantado em anos e
o velho para não o estropiar resolveu levá-lo adiante, caminhando a pé avô e
neto. Passaram a um lugar onde estava muita gente a brincar na estrada.
– Olhem
aqueles brutos! Vão a pé atrás do burro que se não dá da tolice dos donos.
O velho
disse ao neto que se pusesse em cima do burro.
Mais
adiante passaram próximo doutros sujeitos que se puseram a dizer:
– O
mariola do garoto montado, e o velho a pé; o que um tem de esperto tem o outro
de bruto. O velho então mandou apear o neto e ele montou-se no burro.
Mais
adiante começaram a gritar:
– Olhem
o velho se é manhoso! A pobre da criança a pé e ele repimpado no burro.
– Salta
para cima do burro – ordenou o velho ao neto.
O
garoto não esperou que o avô repetisse a ordem e lá foram os dois sobre o
jumento. Andaram assim alguns passos e logo viram muita gente sair-lhes à
estrada, cheia de indignação e gritando ameaçadora:
–
Infames! Criminosos! Canalhas! Matar o animalzinho com o peso de dois alarves,
podendo ir a pé.
O velho
e a criança foram obrigados a descer do burro.
Então
disse o avô ao neto:
– É
para que saibas o que são as línguas do mundo: preso por ter cão e preso por o
não ter.
In José Gomes Ferreira, Contos
Tradicionais Portugueses, Iniciativas Editoriais
Parábola
A parábola é um breve relato que
partindo da realidade quotidiana (agricultura, pesca ou pastorícia) apresenta e
tem como único objectivo apresentar uma mensagem moral (no que respeita ao
objectivo é muito parecida com a fábula)
Parábola
dos Sete Vimes
Era uma
vez um pai que tinha sete filhos. Quando estava para morrer, chamou-os todos
sete e disse-lhes assim:
-
Filhos, já sei que não posso durar muito; mas, antes de morrer, quero que cada
um de vós me vá buscar um vime[1] seco e mo traga aqui.
-
Eu também? -
perguntou o mais pequeno, que só tinha 4 anos. O mais velho tinha 25, e era um
rapaz muito reforçado e o mais valente da freguesia.
-
Tu também -
respondeu o pai ao mais pequeno.
Saíram os sete filhos; e daí a
pouco tornaram a voltar, trazendo cada um o seu vime seco.
O pai pegou no vime que trouxe o
filho mais velho, e entregou-o ao mais novinho, dizendo-lhe:
-
Parte esse vime.
O pequeno partiu o vime, e não
lhe custou nada a partir. Depois o pai entregou outro ao filho mais novo, e
disse-lhe:
-
Agora, parte também esse.
O pequeno partiu-o; e partiu, um
a um, todos os outros, que o pai lhe foi entregando, e não lhe custou nada a
parti-los todos. Partindo o último, o pai disse outra vez aos filhos:
- Agora ide por outro vime e trazei-mo.
Os
filhos tornaram a sair, e dali a pouco estavam outra vez ao pé do pai, cada um
com o seu vime.
- Agora dai-mos cá -
disse o pai.
E
dos vimes todos fez um feixe[2], atando-os com um vincelho[3]. E voltando-se para o
filho mais velho, disse-lhe assim:
- Toma este feixe! Parte-o!
O
filho empregou quanta força tinha, mas não foi capaz de partir o feixe.
- Não podes? -
perguntou ele ao filho.
- Não, meu pai, não posso.
- E algum de vós é capaz de o partir?
Experimentai.
Não
foi nenhum capaz de o partir, nem dois juntos, nem três, nem todos juntos.
O
pai disse-lhes então:
- Meus filhos, o mais pequenino de vós partiu sem
lhe custar nada todos os vimes, enquanto os partiu um a um; e o mais velho de
vós não pôde parti-los todos juntos; nem vós, todos juntos, fostes capazes de
partir o feixe. Pois bem, lembrai-vos disto e do que vos vou dizer: enquanto
vós todos estiverdes unidos, como irmãos que sois, ninguém zombará de vós, nem
vos fará mal, ou vencerá. Mas logo que vos separeis, ou reine entre vós a
desunião, facilmente sereis vencidos.
Acabou
de dizer isto e morreu -
e os filhos foram muito felizes, porque viveram sempre em boa irmandade
ajudando-se sempre uns aos outros; e como não houve forças que os desunissem,
também nunca houve forças que os vencessem.
Lenda
A lenda é uma narrativa breve que
assenta em factos reais, modificados pelo imaginário
colectivo, localizáveis no tempo e no espaço, ou
apenas no espaço ou no tempo.
Porque ao fundo real é acrescentada a
intervenção de entidades benéficas ou maléficas, a lenda resulta numa mistura
de realidade e fantasia.
A lenda tem, geralmente, fundamento
histórico, mas isso nem sempre se verifica; por vezes, as lendas são narrativas
que explicam fenómenos físicos ou aspectos da natureza (vegetal, animal ou
mineral).
Lenda do Milagre de Ourique
A lenda conta que um pouco antes da
Batalha de Ourique, D. Afonso Henriques foi visitado por um velho homem, que o
rei já tinha visto em
sonhos. O homem fez-lhe uma revelação profética da vitória.
Disse-lhe também para, na noite seguinte, sair do acampamento sozinho, logo que
ouvisse a sineta da ermida onde o velho vivia. O rei assim fez. Um raio de luz
iluminou tudo em seu redor, deixando-o distinguir, aos poucos, o Sinal da Cruz
e Jesus Cristo crucificado. Emocionado, ajoelhou-se e ouviu a voz do Senhor que
lhe prometeu a vitória naquela e noutras batalhas. No dia seguinte, D. Afonso
Henriques venceu a batalha.
Conforme reza a lenda, D. Afonso
Henriques decidiu que a bandeira portuguesa passaria a ter cinco escudos, ou
quinas, em cruz, representando os cinco reis vencidos e as cinco chagas de
Cristo.
Fábula
A fábula é uma narrativa
breve de acontecimentos imaginários, na qual o autor, para moralizar e/ou
divertir, foca os defeitos e as qualidades do Homem através de animais que agem
como pessoas.
São especialmente famosos os seguintes autores:
. O grego Esopo (séc. VI a.C.); o romano Fedro (séc. I
a.C.); .o francês La Fontaine (séc. XVII); o português Bocage (séc. XVIII); o português
João de Deus (séc. XX).
A RAPOSA E A CEGONHA
Teve um dia a raposa a fantasia
De convidar para a ceia a Comadre Cegonha.
A raposa é mesquinha: só havia
Umas papas de milho, uma vergonha!
E o pior deste caso
É que as mandou servir num prato raso.
Dona Cegonha bem estendia o bico:
Debicou, debicou, mas não comeu fanico,
E a raposa atrevida
Lambeu as papas todas de seguida.
Dias mais tarde, para se vingar,
Foi a vez de a cegonha a convidar.
«Com muito gosto», volve a outra a toda a pressa,
«Eu não sou de cerimónias, ora essa!»
E à hora combinada, à hora em ponto,
Lá foi bater à porta da cegonha.
Entrou, cumprimentou muito risonha,
E achou o jantar pronto.
Do apetite não lhes digo nada,
Que a raposa anda sempre esfomeada,
E toda se lambia
Ao cheiro que sentia
Da vitela guisada.
Serviram-lhe o pitéu, para a castigar,
Numa vasilha de gargalo esguio.
O bico da cegonha, esse, podia lá entrar,
Mas o focinho da comadre era de outro feitio.
Lá voltou em jejum para casa, corrida,
De rabinho entre as pernas e de orelha caída.
Manhosos aldrabões, o conto é para vocês,
Já ficam avisados:
Há-de chegar-lhes, tarde ou cedo, a vez
De serem enganados.
De convidar para a ceia a Comadre Cegonha.
A raposa é mesquinha: só havia
Umas papas de milho, uma vergonha!
E o pior deste caso
É que as mandou servir num prato raso.
Dona Cegonha bem estendia o bico:
Debicou, debicou, mas não comeu fanico,
E a raposa atrevida
Lambeu as papas todas de seguida.
Dias mais tarde, para se vingar,
Foi a vez de a cegonha a convidar.
«Com muito gosto», volve a outra a toda a pressa,
«Eu não sou de cerimónias, ora essa!»
E à hora combinada, à hora em ponto,
Lá foi bater à porta da cegonha.
Entrou, cumprimentou muito risonha,
E achou o jantar pronto.
Do apetite não lhes digo nada,
Que a raposa anda sempre esfomeada,
E toda se lambia
Ao cheiro que sentia
Da vitela guisada.
Serviram-lhe o pitéu, para a castigar,
Numa vasilha de gargalo esguio.
O bico da cegonha, esse, podia lá entrar,
Mas o focinho da comadre era de outro feitio.
Lá voltou em jejum para casa, corrida,
De rabinho entre as pernas e de orelha caída.
Manhosos aldrabões, o conto é para vocês,
Já ficam avisados:
Há-de chegar-lhes, tarde ou cedo, a vez
De serem enganados.
La Fontaine, Fábulas, Editorial Verbo
Romances
populares
O romance tradicional (ou popular) é
um breve poema épico destinado ao canto e transmitido de geração em geração por
tradição oral.
O conjunto destes breves poemas
narrativos tradicionais constituem o Romanceiro e o primeiro Romanceiro
português deve-se a Almeida Garrett.
A Bela Infanta – manual: Pág.
Oração ou reza
A
oração é uma invocação aos deuses ou aos santos, de tradição oral popular, com
o objectivo de receber algumas graças ou protecções
Oração para afastar os Ratos
|
Responso ao Santo António
Eu responso o [objecto perdido] de N.
Ao meu Padre São António,
Ao Santíssimo Sacramento,
Às três arricas que lá estão dentro,
E às três missas de Natal.
Eu peço ao meu Padre de São António,
Por alminha de sua Santa Tia Madrinha,
Que se o [objecto perdido] o meu Padre São António
Dele guardar e às mãos dela vá parar,
Eu ao meu Padre São António e à sua Santa Tia Madrinha
Pai Nossos e Avé Marias lhe hei-de rezar
|
Lengalengas
A lengalenga constitui
um discurso que se baseia na repetição – de sons, de rimas, de palavras ou expressões,
de estruturas textuais. É construída com o encadeamento, paralelismo e
enumeração, que facilita a sua memorização para a transmissão oral.
O
trigo disse pr`ó centeio:
- Cala-te lá centeio, centeiaço.
Que tu não fazes.
Que tu não fazes.
As funções que eu faço.
O centeio disse pr`ó trigo:
- Cala-te lá trigo espademudo.
Que tu não acodes.
Que tu não acodes.
Ao que eu acudo.
- Cala-te lá centeio, centeiaço.
Que tu não fazes.
Que tu não fazes.
As funções que eu faço.
O centeio disse pr`ó trigo:
- Cala-te lá trigo espademudo.
Que tu não acodes.
Que tu não acodes.
Ao que eu acudo.
Então
a aveia disse:
- Eu sou a aveia magra e feia,
quem me tiver em casa,
não vai para a cama sem ceia!
- Eu sou a aveia magra e feia,
quem me tiver em casa,
não vai para a cama sem ceia!
Adivinha
É um enigma, uma
charada, algo para descobrir, que foi sendo transmitido de geração em geração.
Eu abro do amor as portas,
Da vida às portas encerro; Permaneço em coisas tortas, Mas não em monte ou desterro. |
Já
que tens entendimento
E és amigo de saber: Uma pedra em cima da água, Diz-me lá se pode ser? |
Ó
que lindos amores eu tenho!
Ó que lindos, ó que ingratos! Andam por dentro das botas E por fora dos sapatos |
Provérbio
O provérbio é uma frase geralmente curta, sintética,
que encerra um ensinamento moral, um conselho, ou não fosse este um texto vindo
da boca do povo, que percorreu gerações e que reflecte uma sabedoria milenar.
Para se memorizado mais facilmente, o provérbio exprime, numa linguagem muito
simples, uma lição para a vida.
Quem tudo quer,
tudo perde.
Quem desdenha,
quer comprar.
Devagar se vai
ao longe.
Batendo ferro é
que se fica ferreiro.
Quem com ferro
fere, com ferro será ferido.
Mais vale asno
que me leve do que cavalo que me derrube.
Canção popular
MARIANA
CAMPANIÇA
É tão longe do céu à terra
Como é da morte à vida
Do meu coração ao teu
É uma estrada seguida
Como é da morte à vida
Do meu coração ao teu
É uma estrada seguida
A Mariana Campaniça
Que lindos olhos que tem
Do monte da Légua às Pias
À Missa não vai ninguém
Que lindos olhos que tem
Do monte da Légua às Pias
À Missa não vai ninguém
À Missa não vai ninguém
À Missa já ninguém vai
A Mariana Campaniça
Coitadinha não tem pai
À Missa já ninguém vai
A Mariana Campaniça
Coitadinha não tem pai
Coitadinha não tem pai
E mãe também já não tem
A Mariana Campaniça
Que lindos olhos que tem
E mãe também já não tem
A Mariana Campaniça
Que lindos olhos que tem
Conto recolhido no Concelho
de Castro Verde por alunos do 8.º ano.
O Baguinho de Milho
Informante:
Francisco Jesuíno
Local: Entradas
Era uma vez um
casal que não tinha filhos e então dizia ele. O marido dizia para a mulher:
- Eh, não temos um
filho, não temos nada!
Ainda
era do tempo em que Nosso Senhor andava pelo mundo mais o S. Pedro. Uma noite
aparece lá um velhote e diz ele assim:
-
Então, não me dão para aí agasalho, aí esta noite e tal…
-
Aonde? Eu só tenho uma cama onde durmo com a mulher. Tenho ali um palheiro.
- É mesmo num
palheiro que a gente se interessa.
Estiveram jogando à
carta e essa coisa toda, depois falaram na vida:
- Eh, não tenho um
filho, há uns quinze anos que estou casado, não tenho um filho. Dizem que há
para aí Deus Nosso Senhor mais o S. Pedro, nem que me desse para aí um filho do
tamanho de um bago de milho.
O homenzito não
disse nada, foi-se embora noutro dia de manhã e não disse nada. A mulherzinha
engravidou. Teve um filho do tamanho de um bago de milho. O moço não crescia
mais um dia que o outro, sempre daquele tamanho. O moço tinha já uns quinze
anos e do tamanho de um bago de milho. O pai tinha uma junta de bois e uma
hortinha.
Um dia, assim na
sementeira, diz o marido assim para a mulher:
- Mulher, hoje
vais-me levar o almoço lá ao campo que eu ando lá semeando.
Diz o moço assim:
- Pai e mãe, deixem
ir consigo.
- Não, o que tu
vais lá fazer, és uma coisa tão pequenina, então, andas sempre caindo, um bago
de milho, eh, não cresces mais um dia que o outro.
- Mas eu quero ir!
- Eh! Vai lá.. comigo … olha se caíres logo te
alevantas.
Chegou lá, o pai
chegou à ponta do rego, parou e lá ficaram comendo e diz o moço assim para o
pai:
- Pai, deixe-me dar
um rego.
Diz o pai assim:
- Olha, és do
tamanho de um bago de milho (um bago de milho é pequenino, não sei mas deve ser
pequenino)
- Deixe-me dar um
rego, pai!
Diz ele assim:
- Ah!Ah! Mas
olha-me este moço de um cabrão! Dou-te um rego? Alguma vez tu podes com a
charrua?
- Não sei. Sim,
deixe-me lá uma vez a mim experimentar.
- Então, vai lá que
eu quero ver.
O gajo meteu-se
dentro do rego, pegou na aveca e pegou dentro do rego e levou a arelhada. Chegou
lá à ponta, voltou para trás e diz ele assim:
- Olha, posso mais
um reguinho?
- Sim, podes.
Quando ia a tornar
de volta para lá, passou uns homens a cavalo numas parelhas e nuns carros. Viu
o boi e os bois a andarem lavrando sozinhos, não via ninguém e a arelhada
andando e diz ele assim:
- Eh pá, que diabo
é aquilo? Não tinha visto ainda. Olha o pau, nunca tinha visto aquilo, uma
junta de bois lavrando sozinha.
Ele mandou parar os
bois.
- Então, você não
vê que vai aqui um homem, ah, ah, é um trabalho de um cabrão, levam com a
arelhada nos cornos.
Lá foi e depois
voltaram, iam pela estrada… ele mandou os bois parar pelo caminho … vá de
porrada …
- Eh pá, que isso
não é coisa boa que anda aqui! Uma junta sozinha lavrando.
Depois o pai voltou
para trás e diz ele assim:
- Olha lá, filho,
tu se quiseres, fica aí lavrando a tarde inteira.
Ele disse então:
- Não vê aqueles
homens de um cabrão que não viam que havia aqui um homem.
O pai já sabia que
era do tamanho de uma aranha, nem tão pouco eles o viram.
- Então, ficas aí
lavrando e à tarde, depois soltas os bois e vais andando para além para a
horta. Mas não deixes comer as couves. Bom, está certo, que eu tenho um serviço
para fazer lá no monte, vou lá fazer qualquer coisa, vou mais a tua mãe.
Mas à tarde deu em
morraçar, ora o Bago de Milho em qualquer coisa se agachava. Começou a morraçar
e o que é que ele faz? Mete-se dentro de uma couve, vem lá um boi, come a couve
e come o Bago de Milho. Os dois bois começaram a andar na couve e encheram a
barriga de couves. E o pai lá à espera no monte:
-
Ah moço de um cabrão, então os bois andam nas couves.
Chega
lá à horta e onde o bago de milho respondeu-lhe assim:
-
Pai, mate o nosso boi lombardo que eu estou dentro da barriga dele.
-
Ah moço de um cabrão, agora é que tu me lixaste, agora na força da sementeira.
Agora o que é que eu faço à vida? Venho para casa com os bois.
Todo aborrecido
chega lá a casa e diz:
- Então parece que
vens aborrecido? Então o Bago de Milho?
- Então, O bago de
milho está dentro da barriga do boi. Então, agora o que é que eu faço?
- Então agora, tens
de matar o boi.
O homem, no outro
dia de manhã, pegou no boi e foi lá para um xavanasco e então matou o boi. Quem
é que havia de passar lá? Uma velhota.
- Ah, dei-me um
cadinho de carne ti homem.
- Ah sua velhota
dum cabrão, desaparece daqui que já chateado da cabeça, ando eu, ainda você
quer um cadinho.
- Mas dê-me um
cadinho de carne, com tanta carne que você tem aí, você é ruim, assim e assado.
- Olhe, mais que
não seja, dê-me as tripas.
- Eh, tome lá as
tripas.
Deu-lhe as tripas e
o bago de milho estavam dentro das tripas. O bago de milho dentro das tripas,
tirou o boi, tirou as tripas e o bago de milho dentro da barriga dentro das
tripas. A velha pregou com as tripas à cabeça e era pesado (não havia de ser
pesado), ia pela ladeira acima.
- Pum
Diz ele assim
- Ah sua velha dum
cabrão, você não vê que vai aqui um homem.
A mulher olha para
um lado e para o outro e não vê ninguém.
- Eh porra!
Levanta o passo,
subiu outra ladeira e vai outro peido ainda maior.
- Ah sua velha dum
cabrão, não vê que vai aqui um homem.
Ora a velha olhava
para um lado e para o outro e não via ninguém. (Então havia de ver, se o bago
de milho ia dentro das tripas) Subiu outra ladeira.
- Eh pá!
A velha cagou-se no
alguidar das tripas e foi-se embora. Fugiu e o Bago de Milho dentro das tripas.
E quem é que havia de passar por lá? Um lobo.
- Mmmmm…Teve
cheirando as tripas se cheirava bem ( havia de cheirar bem, cheirava mal), oh
que belo almoço que eu tenho aqui.
Comeu as tripas,
comeu o bago de milho também. Naquilo corta-lhe uma barrigada do bago de milho,
aquilo não teve tempo bem…
O lobo, assim que
lhe passou a barrigada, diz assim:
- Vai ali um
rebanho de ovelhas, leva ali uns borreguinhos pequeninos. Ele vai por além e eu
agora vou por aqui, vou caçar uma ovelha ou um borrego, aquilo que calhar.
Ouve-se uma coisa
lá de dentro:
- Oh moiral, lá vai
lobo, lá vai lobo às ovelhas.
- Ah cães que viram
lobo.
O lobo já havia
oito dias que não comia, já quase que não andava, diz ele assim um dia que
estava lá a uma soalheira e aparecem mais lobos (que nesse tempo os bichos
falavam):
- Compadre Ferrais,
parece que está tão mal encarado?
-Cale-se aí, há uns
oito dias que eu não como, desde que comi uma puta dumas tripas, assim e assim,
umas tripas que eu encontrei, trago aqui uma coisa dentro de mim… Vejo umas
ovelhas e começa uma coisa cá de dento lá vai lobo, oh moiral, lá vai lobo e os
cães quase me apanham, não sei o que é que eu tenho dentro de mim.
- Ó homem, compadre
Ferrais, sabe o que é que você faz, vá à nossa alagoa. (Tinham lá uma alagoa
onde iam beber) Vá à nossa alagoa e você bebe, bebe, bebe, até deitar água pelo
cu, pelas ventas e pela boca. Depois naquela ladeira acima, dá ali uma
carreira, que aquilo pode ser que limpe e lhe passe isso.
- Mas eu não tenho
sede, compadre, eu tenho é fome, não tenho sede.
- Não, compadre
Ferrais, faça lá isso, que isso é bom.
O lobo lá esteve
bebendo, bebendo, de pernas abertas a beber, a beber, já deitava água pelo cu e
pelo nariz e pelos ouvidos, aquilo limpou, foi um clister. O Bago de Milho
saiu, saiu pelo cu do lobo, saiu todo cagado (então não havia de estar).
Diz ele:
- Onde é que eu me
vou lavar?
Foi-se lavar lá à
alagoa.
- Aonde é que eu
estou metido, numa altura destas?
O Bago de Milho
também já tinha fome. O bago de milho lá foi andando, foi andando. Onde é que
ele havia de ir? Onde estavam uns caseirões. O bago de Milho disse:
- É aqui que eu
esta noite fico, anoitecendo. Até que eu venha lá a casa.
O pai nunca mais
soube do Bago de Milho. O pai dele ficou cá com o outro boi. Ele lá esteve, por
essa noite a fora, ele ouve aquela sapateada, a conversar.
- Então, aqui vem
gente! Será que vem?
Era uma companhia
de ladrões, depois chegaram lá ao coiso, prenderam os cavalos e chegaram lá a
uma porta que eles lá têm. Dizem eles assim:
- Abre-te sineta!
A porta abriu-se,
um portão grande, entraram com os cavalos lá para dentro. Ele lá andou lá atrás
dos ladrões.
- Aqui está o
dinheiro, tantos sacos disto, tanto daquilo, tanto daquilo. Vamos lá ver aqui
na casa do moço, se o dinheiro está aqui todo.
Estiveram lá a
contar:
- Um, dois, três,
quatro, cinco, seis, ai, não estão aqui todos.
Lá estiveram
contando xis e tanto, xis e tanto…
- Temos que ir
embora.
O bago de milho
chegou com eles. Eles não o viam, então ele era muito pequenino. Chegou cá à
porta e dizem eles assim, os ladrões:
- Abre-te sineta!
A porta abriu-se.
- Fecha-te sineta!
A porta fechou-se.
O Bago de Milho
saiu cá para fora. Eles foram-se embora nos cavalos e deixaram também lá uns
cavalos também lá presos, assim que eles abalaram, diz ele:
- Agora vou eu
experimentar.
Chegou lá ao pé da
porta.
- Abre-te sineta.
A porta abriu-se.
Vem cá para fora.
- Fecha-te sineta!
(mas o bago de milho cá fora, que a porta não fechasse e ele ficasse lá dentro)
A porta fechou-se
- Abre-te sineta!
A porta abriu-se,
entrou lá para dentro e encheu quatro ou cinco sacos de dinheiro. Arreou um
cavalo, montou os sacos em cima do cavalo e cá vai ele a cavalo no cavalo para
a casa do pai. Chega à casa do pai
- Então, Bago de
Milho, onde tens andado?
- Eh, cale-se, tive
que penar muito, pai. Agora, trago aqui a nossa fortuna. Então e já comprou
outro boi?
- Não, então eu não
posso comprar outro boi. Então, eu tenho algum dinheiro?
- Bem, agora eu
trago aqui dinheiro com fartura.
O compadre dele, o
padrinho dele, era muito invejoso:
- Então, compadre,
já apareceu o meu afilhado?
- Não.
Depois apareceu o
afilhado.
- Então, afilhado,
então aonde é que arranjaste essa fortuna?
- Foi assim, assim,
assim, uma companhia de ladrões chegam lá, para lá tinham vinho, tinham adega,
tinham tudo.
- Hás-de-me
ensinar, ao padrinho.
- Eu ensino, pode
ir, eu já não tenho falta dele, eu já não vou lá.
Ele gostava muito
de vinho e ele foi lá.
- É assim,
padrinho, chega lá ao portão, lá à porta, abre-te sineta, chega cá fora e
fecha-te sineta e aquilo fecha-se sozinho, depois abre-te sineta e está
andando. Há lá dinheiro.
Aquilo demorou
quatro ou cinco dias. Os ladrões, quando vieram na outra noite, acharam um
cavalo a menos e acharam mexido, lá do dinheiro.
- Quem seria o
artista? Quem seria o artista que veio aqui?
Foram a caminho dos
mortos, estavam mexidos à mesma.
- Estes aqui não
foram, eles estão aqui todos. Estes aqui não foram nenhum.
Depois correram as
casas todas.
- Bem, temos que ir
embora. Temos que ir embora. Mas quem será o artista que veio aqui? Se a gente
o apanha aqui, ele deve saber muito bem…
O padrinho dele foi
e ora chegou lá:
- Abre-te sineta.
A porta abriu-se.
-
Fecha-te sineta.
A
porta fechou-se. Ele foi, encheu dois ou três sacos de dinheiro, foi a caminho
da talha do vinho, esteve provando o vinho, provava daquela, provava naquela,
às páginas tantas, embebedou-se. E o que é que acontece? Já não dava com a
porta. Abre-te isto, abre-te aquilo, abre-te joaquim, não dava com o nome da
porta. Daí a nada, os ladrões lá à porta. Eh porra! Não tinha onde se esconder,
escondeu-se debaixo dos mortos. Os ladrões, assim que chegaram lá, viram logo
os sacos cheios de dinheiro.
-
Olha, já cá está o gajo outra vez. Ora, ainda assim, está tramada. Não vês o
cavalo, já preparado para ir embora? O gajo está aqui dentro hoje. Hoje, o gajo
está aqui dentro.
Foram
ver nas casas todas, contaram os mortos, nada, e diz ele assim:
-
Isto está mau. Este artista!
E
diz um assim:
-
Ora escuta lá uma coisa, a gente agora faz aí uma coisa, a gente agora aquece
um ferro em brasa e mete pelo cu de cada morto, mete o ferro em brasa pelo cu,
se algum estiver vivo.. Não seja que algum destes cabrões, esteja vivo e faz
que está morto.
Ora
porra, assim que ele ouve falar em ferros em brasa:
-
Eh pá, eu ferrado não quero ser.
-
Então é você, venha cá.
Mataram-no.
O
bago de milho ficou rico e o outro morreu.
Acabou-se.
es gordissima
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