Faça você mesmo a sua escola
Clóvis Rossi
Clipping Educacional - Folha de São Paulo
O
Reino Unido está inaugurando esta semana 24 "escolas livres", que vêm a
ser estabelecimentos de ensino financiados pelo poder público, mas
geridos pela comunidade ou por alguma empresa que se disponha a fazê-lo.
O
pano de fundo ideológico da ideia está na pregação de campanha
(vitoriosa) de David Cameron, conservador. Se desse para resumir em um
slogan, como é da praxe deste mundo dominado pelo twitter, diria que é
"menos Estados, mais sociedade".
Na prática, funciona assim: um grupo de pais, por exemplo, ou alguma
organização decide criar uma escola. Deve, então, enviar requerimento ao
Ministério da Educação, demonstrar que existe demanda local de parte de
pais e/ou alunos, apresentar um projeto educativo e o plano financeiro.
Se aprovada a proposta, o governo financia a instalação da escola, que,
no entanto, permanece gratuita. A partir daí, o Estado sai de campo e
deixa a cargo de um Comitê Diretor (preferencialmente formado pelos
pais) o recrutamento de professores, a definição do número de alunos por
classe, a organização do tempo de estudos, o conteúdo dos programas
escolares e assim por diante.
Fico imaginando se esse tipo de escola "faça você mesmo" funciona. Dizem
que há exemplos similares na Suécia e nos Estados Unidos, mas
desconheço qualquer avaliação delas.
E no Brasil, funcionaria? Tenho sérias dúvidas. O sucesso desse tipo de
empreendimento passa, inexoravelmente, pelo envolvimento profundo de
pais e mães. Em cidades como Rio e São Paulo, a grande maioria dos
pais/mães não consegue, mesmo que tenha boa vontade, encontrar tempo nem
para atividades mais imediatas na relação familiar, imagine então
envolver-se com a escola.
Seria necessário desenvolver um sentido de comunidade que se debilitou
no mundo todo por mil motivos que não vem ao caso relacionar aqui. Mas é
algo para se pensar, posto que o modelo educacional brasileiro está em
crise (vive em crise, na verdade). Resolveu o problema da quantidade, ou
seja, colocou na escola quase a totalidade das crianças em idade
escolar, mas permitiu concomitantemente que se deteriorasse fortemente a
qualidade.
Clóvis
Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha,
ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo
Periodismo Iberoamericano. Assina coluna às terças, quintas e domingos
no caderno Mundo. É autor, entre outras obras, de "Enviado Especial: 25
Anos ao Redor do Mundo e "O Que é Jornalismo".
fonte: http://www1.folha.uol.com.br
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