Brasil precisa medir proficiência em escrita, dizem especialistas
Marina Morena Costa
Clipping Educacional - iG São Paulo
Algumas avaliações criam escalas para mensurar o nível dos estudantes, mas ainda não há uma nacional
Diferentemente
de Leitura e Matemática, o Brasil não tem como mensurar e comparar o
desempenho dos estudantes na escrita. As redações dos estudantes são
corrigidas em avaliações internas e externas, como o Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem), sem uma escala que possibilite mensurar o nível de
proficiência dos alunos em escrita. Já Leitura e Matemática, seguem a
escala do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), na qual os
pontos significam habilidades e competências.
Algumas redes e avaliações têm desenvolvido escalas próprias para medir o desempenho dos estudantes. A Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização),
primeira avaliação externa aplicada a alunos do 3º ano do ensino
fundamental de todas as capitais brasileiras, criou uma escala própria
para medir a qualidade da alfabetização. “A criança só é considerada
alfabetizada se ela lê e escreve. Por isso precisávamos medir a
escrita”, afirma Nilma Fontanive, coordenadora do centro de avaliação da
Fundação Cesgranrio e uma das responsáveis pela Prova ABC.
A
Avalia Educacional, empresa responsável pela elaboração e aplicação de
avaliações em instituições de ensino, trabalha na construção de uma
escala para avaliar a escrita na rede estadual de Alagoas. As provas
estão sendo aplicadas nesta semana e serão corrigidas com o uso da Teoria de Resposta ao Item (TRI), metodologia usada pelo Enem nas questões de múltipla escolha que permite produzir provas com o mesmo nível de dificuldade.
“Com
o uso da TRI, criamos uma escala e passamos a ter uma medida
comparável. O objetivo é que os resultados sejam compreendidos e
utilizados para uma melhora da educação”, explica Renato Júdice, gerente
da área técnica da Avalia e membro suplente do Conselho Fiscal da
Associação Brasileira de Avaliação Educacional (Abave).
Para
corrigir as redações com a TRI, a Avalia criou uma tábua com 16
critérios a serem avaliados, dentro de quatro eixos principais – desde
os mais simples, como adequação ao tema até domínio da norma culta,
coesão e argumentação das ideias. A correção é feita com base nesses
critérios e o departamento de estatística gera o nível de proficiência
dos alunos em escrita.
Amauri
Gremaud, ex-diretor da área responsável pelas avaliações de educação
básica no Brasil do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep), trabalhou na elaboração da
metodologia de correção das redações da Avalia. Ele ressalta a
importância de padronizar as avaliações no País, mas acredita ser
difícil adotar uma escala única, que meça desde o início da
alfabetização até o fim do ensino médio. “Precisamos avaliar a escrita
com mais rigor. Isso é importante e falta”, analisa.
Nilma
destaca que uma escala em escrita possibilitaria a interpretação dos
resultados e posicionaria os alunos sobre o nível de desempenho deles. A
especialista, em coautoria com o consultor da Cesgranrio Ruben Klein,
apresentou em um artigo, uma proposta de usar a TRI na correção da
redação do Enem. “Podemos caminhar para uma escala nacional, se o Inep
pensar em colocar a escrita no Saeb”, aponta.
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