Uma das buscas constantes do trabalho
do professor é manter o gosto pela leitura nos alunos. É fato que, no
início do ensino fundamental, essa competência se forma motivada pelas
atividades desenvolvidas pelo professor em sala de aula. Entretanto, o
problema emerge na passagem para os quatro últimos anos do mesmo ensino
fundamental, momento em que o adolescente deixa de gostar de ler,
abandonando os livros ao pó das prateleiras.
Nessa
fase, o aluno passa a ter novos focos de interesse e a escola, que
antes recebia a maior parte de sua energia curiosa, fica em segundo
plano. Em consequência, a leitura, especialmente de obras literárias,
diminui consideravelmente. Eis a grande inquietação de professores, pais
e demais educadores: por que a leitura é abandonada? O que motiva o
aluno a criar,em alguns casos, aversão a isso?
Várias são as pesquisas em busca de identificar os fatores que incentivam o aluno à leitura. Elas apontam normalmente as influências da família, com a presença de pais leitores; o acesso direto aos livros; o trabalho pedagógico da escola e do professor; entre tantas outras. O que pouco se discute são as causas desse distanciamento entre o adolescente e o livro literário.
Como ponto de partida para tal
discussão, seria ingênuo desconsiderar a fase de desenvolvimento por que
passam os adolescentes. O momento é de busca da autocompreensão, da
independência e da escolha de suas ideologias e filosofias vitais, isso
sem contar as interferências tecnológicas muito mais atraentes. A
energia passa a se concentrar em novos focos, especialmente no
conhecimento do outro e da descoberta das emoções no envolvimento com o
outro. E aqui ler não é, nem faz parte do gasto dessa energia.
Para acalorar a discussão, trago
para a cena desse embate o trabalho docente com a leitura literária.
Com raras exceções, o professor é quem mutila qualquer desejo de ler ao
escolher as leituras obrigatórias que serão trabalhadas em sala de aula.
A escolha não parte de um diagnóstico a respeito do gosto literário do
aluno, mas é direcionada pela preocupação essencialmente pedagógica e,
nos casos do ensino médio, fundamentada pelo vestibular. Buscar livros
que eduquem moralmente nossos alunos ou pautar-se nas famosas listas de
vestibular não é estímulo para a formação de leitores.
O que um educador deixa de lado é o fato de que, pela passagem ao longo dos anos escolares iniciais, o aluno forma gostos muito individuais sobre o que quer ler, sobre os temas que lhe são pertinentes determinados pela idade, crença ou sexo. Pesquisar esses gostos e investir neles pode ser um caminho na busca de, não apenas formar, mas ir além da construção de leitores críticos e vorazes por livros.
Dar as costas para os livros recém-lançados também não pode ser postura de formadores de leitores. É preciso lembrar que as obras não nasceram velhas, houve época em que se configuravam também como novas produções e que, muitas vezes, foram tomadas como expressões não artísticas, fora dos cânones estabelecidos pela crítica.
Ampliar nossas visões sobre livros e literatura é condição imprescindível para transformar mal “ledores” em leitores. Quem sabe a aversão à leitura literária não seja reflexo da faltade criatividade nas formas de avaliar, responsáveis por destituir o livro como fonte de vivências e experiências que ampliam o horizonte de quem lê?
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