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Literatura na escola - 7º ano: Romance de José J. Veiga

Língua Portuguesa
Prática pedagógicaLeitura
Sequência Didática Ensino Fundamental II
Literatura na escola - 7º ano: Romance de José J. Veiga

Bloco de Conteúdo
Língua escrita

Conteúdo
Leitura
Introdução
Esta é a oitava de uma série de 16 sequências didáticas que formam um programa de leitura literária para o Ensino Fundamental II. Veja, ao lado, o conteúdo completo.

Objetivos
Estimular o gosto pela leitura;
Desenvolver a competência leitora;
Desenvolver a sensibilidade estética, a imaginação, a criatividade e o senso crítico;
Estabelecer relações entre o lido/vivido ou conhecido (conhecimento de mundo);
Reconhecer e analisar os elementos da narrativa (narrador e seu ponto de vista, trama, tempo da narração e tempo do narrado);
Reconhecer e interpretar a alegoria na obra.

Conteúdos
Elementos da narrativa: narrador, personagem, tempo
Conceitos de tempo do enunciado e tempo da enunciação.
Opressão e Resignação
Alegoria

Tempo estimado
Dez aulas

Ano
7º ano

Material necessário
- Livro Sombras de reis barbudos. José J. Veiga. São Paulo: Difel, s/d.

Desenvolvimento

1ª etapa: Antecipação/Motivação/Sensibilização
Lance a seguinte pergunta à classe:
Você já ouviu falar do escritor José J. Veiga? Conhece alguma obra que ele publicou? Fale um pouco sobre o autor para a turma.

José J. Veiga

José Jacinto Pereira Veiga (1915-1999) nasceu em Corumbá, uma pequena vila a 150 quilômetros de Goiânia, em Goiás. Dizia dever a escolha de seu nome literário à ajuda de Guimarães Rosa que, com argumentos numerológicos e estilísticos, sugeriu José J. Veiga, na altura da publicação do livro de estreia "Os Cavalinhos de Platiplanto", em 1959. Depois dessa obra vieram: A hora dos ruminantes (1966), A máquina extraviada (1968), Sombras de reis barbudos (1972), Os pecados da tribo (1976), Professor Burrim e as quatro calamidades (1978), De jogos e festas (1980), Aquele mundo de Vasabarros (1981), Torvelinho dia e noite (1985), A casca da serpente (1989), Tajá e sua gente (1985), Relógio belisário (1996).

Em 1997 recebeu o Prêmio Machado de Assis pelo conjunto de sua obra. Faleceu aos 84 anos, em 1999. Seus livros foram lançados também nos Estados Unidos, Inglaterra, México, Espanha, Dinamarca. Suécia, Noruega e Portugal.

Explique aos alunos que os dados biográficos interessam-nos para conhecer um pouco da vida do autor, quantas obras escreveu, quais prêmios ganhou. Deixe claro que uma análise literária que leva apenas em consideração a vida do autor, tende ao equívoco, já que o escritor é decisivo só no momento da escritura. Depois de a obra estar pronta, ela fala por si só. O autor apenas cria, imagina a história, as personagens, o cenário e cria alguém responsável pelo ato de narrar: o narrador. Sendo assim, como afirma o contista Dalton Trevisan (Record, 1979), “nada tem a dizer fora dos livros. Só a obra interessa, o autor não vale o personagem. O conto é sempre melhor que o contista.”

Peça que os alunos respondam oralmente. A partir do título “Sombras de reis barbudos”, o que você espera da história?

Em seguida, faça uma leitura compartilhada do capítulo 1 do livro, “A chegada”, seguida de troca de impressões gerais.

2ª etapa: análise do primeiro capítulo
O romance Sombras de reis barbudos se inicia com o seguinte fragmento:

“Está bem, mãe. Vou fazer a sua vontade. Vou escrever a história do que aconteceu aqui desde a chegada de tio Baltazar. Sei que esse pedido insistente é um truque para me prender em casa, a senhora acha perigoso eu ficar andando por aí mesmo hoje, quando os fiscais já não fiscalizam com tanto rigor. Talvez seja mesmo uma boa maneira de passar o tempo, já estou cansado de bater pernas pelos lugares de sempre e só ver essa tristeza de casas vazias, janelas e portas batendo ao vento, mato crescendo nos pátios antes tão bem tratados, lagartixas passeando atrevidas até em cima dos móveis, gambás fazendo ninho nos fogões apagados, se vingando do tempo em que corriam perigo até no fundo dos quintais.”

Peça que os alunos respondam por escrito:

- Quem é o narrador desse fragmento? Ele participa da história? Como você o caracteriza?
- O narrador conta os fatos no momento em que eles ocorrem ou após algum tempo? Retire do texto fragmentos que comprovem sua resposta.

Explicite os conceitos de tempo da narração e tempo do narrado (ou tempo da enunciação e tempo do enunciado). Retome com os alunos o enredo, mostrando-lhes que o narrador/personagem, por sugestão da mãe, resolve relatar tudo o que aconteceu desde a chegada do tio, responsável pela instauração da fábrica.

Se possível, prepare um quadro no qual o aluno, retirando exemplos da obra, consiga visualizar a presença dos dois tempos: o da narração e o do narrado. Apresente alguns exemplos e peça que o aluno complete a tabela.

Tempo da narração


Tempo do narrado

Está bem, mãe. Vou fazer a sua vontade. Vou escrever a história do que aconteceu aqui desde a chegada de tio Baltazar. Sei que esse pedido insistente é um truque para me prender em casa, a senhora acha perigoso eu ficar andando por aí mesmo hoje, quando os fiscais já não fiscalizam com tanto rigor. Talvez seja mesmo uma boa maneira de passar o tempo, já estou cansado de bater pernas pelos lugares de sempre e só ver essa tristeza de casas vazias, janelas e portas batendo ao vento, mato crescendo nos pátios antes tão bem tratados, lagartixas passeando atrevidas até em cima dos móveis, gambás fazendo ninho nos fogões apagados, se vingando do tempo em que corriam perigo até no fundo dos quintais.


Eu tinha onze anos quando tio Baltazar chegou da primeira vez.

Pensei que ia ser fácil escrever a nossa história, estando os acontecimentos ainda vivos na minha lembrança.


Só ouvi mamãe me chamar uma vez. [...] Se a minha falta não era notada, então alguma coisa muito importante devia estar acontecendo lá em cima enquanto eu fazia papel de morcego escondido no escuro.

Será que eu estaria aqui escrevendo se tio Baltazar não tivesse vindo para cá com a ideia de fundar a Companhia?


Primeiro passei na cozinha para comer alguma coisa enquanto estudava a maneira de me mostrar na sala. Eu estava mexendo nas panelas quando mamãe apareceu para providenciar mais café e me apanhou de surpresa.

Mas a história que vou contar começa mesmo é com a chegada de tio Baltazar


[...]— Coma qualquer coisa e venha falar com ele. Ele tem uma surpresa para você [...]

Pobre tio Baltazar, como estaria sofrendo se ainda vivesse.


— Finalmente chegou o estudioso— disse tio Baltazar descansando o charuto no cinzeiro. — Venha aqui para eu ver você de perto.

Agora eu pergunto de novo: se ele tivesse voltado naquela ocasião, será que ainda estaria vivo? E se ele não tivesse fundado a Companhia, será que teríamos passado por tudo o que passamos?


— Eu trouxe isto para você. Veja se gosta.
Mamãe fez sinal para eu abrir o embrulho, meu pai continuava fumando e fazendo força para mostrar a indiferença. [...]

Se estou aqui para contar a verdade não posso esconder o meu desapontamento quando vi tio Baltazar[...]


[...] Um dia tio Baltazar viajou para buscar tia Dulce, e a segunda chegada foi outra festa ainda melhor porque durou muitos anos.

Comente com a turma que, por meio da análise, percebemos que quem nos conta os fatos é um narrador em 1ª. pessoa que, como foi dito, a pedido da mãe, resolve contar a história do que aconteceu em sua cidade desde a chegada de tio Baltazar. Assim, via memória, recupera os fatos vividos por ele. Aqui, como em “A Ilha dos Gatos Pingados” e “Cavalinhos de Platiplanto” (ver sequência didática – 6º ano- Contos de José J. Veiga) há uma diferença entre o tempo da enunciação e o tempo do enunciado.

Peça que os alunos respondam por escrito:

- Por que Lucas resolve escrever suas memórias? Qual sua percepção em relação à cidade?
3ª etapa: Leitura compartilhada dos capítulos 2 e 3 “ Um homem correndo” e “A partida”

Após ler os capítulos com os alunos, ressalte que, como a história é narrada em um momento diferente dos fatos vividos, o narrador mostra-se mais maduro. Por esse motivo, à medida que rememora os fatos, tece comentários a respeito deles. Observe:

“É curioso como certas coisas vão acontecendo em volta da gente sem a gente perceber, e quando vê já estão aí firmes e antigas” (p. 7)

“Meu pai vivia correndo naqueles dias; se ele soubesse para onde estava correndo teria moderado o passo.” (p. 13)

Os fragmentos acima revelam um posicionamento de alguém já amadurecido, ou seja, os fatos ocorridos, quando menino, são interpretados de outra forma por alguém que, distante no tempo, com uma postura mais reflexiva, resolve rememorar os fatos vividos.

Entregue as seguintes questões e peça que respondam por escrito:
- Pela leitura dos três primeiros capítulos é possível saber a que situação o narrador se refere nestes comentários?

No decorrer dos três primeiros capítulos o narrador, já mais maduro, demonstra não saber de todos os fatos que sucederam. Veja:

“Como foi eu não sei direito. Só sei que houve uma briga no cartório [...]”
“Pelas conversas aqui em casa fiquei sabendo que a grande dificuldade era o capital”

“Até hoje não sei o que aconteceu entre eles no início para gerar tanta prevenção”

- A que fator você atribui a falta de conhecimento de Lucas sobre os fatos relatados?
- Levando em consideração o não-conhecimento de Lucas em relação a todos os fatos, pode-se dizer que o relato é confiável?

Leia o fragmento a seguir:

Quando tio Baltazar começa a falar no projeto da Companhia meu pai se mudou para as nuvens.

- Interprete essa imagem? O que ela sugere?
- Descreva a ascensão e o declínio de tio Baltazar.

Para finalizar, proponha que os alunos leiam os capítulos 4 e 5 em casa.

4ª aula: análise dos capítulos 4 e 5
Em classe, entregue as seguintes questões e peça aos alunos que respondam por escrito:

- O que ocorre em Taitara assim que tio Baltazar se afasta?

Leia o fragmento a seguir:

De repente os muros, esses muros. Da noite para o dia, eles brotaram assim retos, curvos, quebrados, descendo, subindo, dividindo as ruas, tapando vistas, escurecendo, abafando. Até hoje, não sabemos se eles foram construídos aí mesmo nos lugares ou trazidos de longe já prontos e fincados aí.

- Você julga normal muros surgirem de repente na cidade?
- O que mudou na rotina dos moradores com a presença dos muros?

Leia o fragmento a seguir:

No princípio quebrávamos a cabeça para achar o caminho de uma rua à rua seguinte, e pensávamos que não íamos nos acostumar; hoje podemos transitar por toda parte até de olhos fechados, como se os muros não existissem.

Discuta a questão da resignação. Mostre à sala que, por medo, as pessoas desistiam de lutar, aceitavam tudo sem questionar, a ponto de não estranharem mais a opressão.

No dicionário, ou seja, em seu sentido literal, muro é
1-uma parede forte que veda ou protege um recinto ou separa um lugar de outro. 2 Murada. 3 Defesa, proteção.

- Arrisque uma interpretação: por qual motivo aparecem muros na cidade? O que eles significam?
- Após a construção dos muros, surge a figura do fiscal. Qual era seu papel?
- Ainda no início do capítulo 4, o narrador menciona o respeito que o pai obteve com o cargo de fiscal. O respeito obtido é o mesmo que tio Baltazar recebia da população? Por quê?
- No cargo de fiscal, Horácio tinha algumas funções. Quais eram elas?

Observe para a sala como os muros impediam que os cidadãos de Taitara soubessem o que acontecia na cidade. A falta de visão, imposta por eles, cria nos habitantes o hábito de olhar para cima, para os urubus que a sobrevoavam. Observá-los passa a ser a única distração das pessoas. Por esse motivo, compram binóculos, lunetas e telescópios.

No dicionário, ou seja, em seu sentido literal, urubu é a designação dada a várias aves rapinadoras, da família dos Catartídeos, que circulam no ar à procura de carniça, de que unicamente se alimentam.

- Arrisque uma interpretação, o que os urubus sugerem na trama?
- O estranho hábito de ter urubus como animais de estimação logo atrai a atenção da Companhia. Qual a atitude dela diante desse fato?

Comente com os alunos que qualquer liberdade era aniquilada pela Companhia, pois nada poderia fugir ao seu controle, ainda que fosse um simples divertimento.

5ª, 6ª e 7ª etapas: análise capítulo 6: “Pausa para um mágico”

Faça a leitura compartilhada do capítulo 6, seguida de troca de impressões gerais.
Entregue as seguintes questões e peça aos alunos que respondam por escrito. Pode ser uma atividade em dupla:

Leia o fragmento a seguir:

Nossa vida voltou à triste rotina de fitar muro, contornar muro, praguejar contra muro — e esperar por algum acontecimento indefinido que nos tirasse desse molde. Os dias se emendavam iguais, de tão iguais se confundiam e pareciam um só. Tínhamos caído em um desvio onde a ideia de tempo não entrava, a vida era uma estrada comprida sem margens nem marcos, estar aqui era o mesmo que estar ali, o hoje se confundia com o ontem e o amanhã não existia nem em sonho; nós esperávamos qualquer coisa, mas já nem sabíamos se era para adiante ou para trás.

- O que representa a possibilidade de ver o mágico, Grande Uzk, na rotina dos moradores?
- O que Grande Uzk fez de tão sensacional?
- Como os moradores saíram do espetáculo?

Leia o trecho a seguir:

Mas a verdade é que o Grande Uzk ajudou muito a nossa vida, e sem ele ficou mais difícil aguentar a realidade. Depois que ele foi embora levando suas mágicas naquelas canastras enormes, as pessoas andavam pelas ruas como sonâmbulas, indiferentes, desinteressadas, esbarrando umas nas outras, pisando as botinas engraxadas dos fiscais e pagando caro pela distração.

- A vinda do mágico à cidade não é comprovada, parece ser mais um desejo coletivo, uma via de escape daquela realidade tão amarga. Que fragmentos do romance põem em dúvida a existência de Grande Uzk.
- Por que o narrador afirma que sem a presença do mágico ficou mais difícil enfrentar a realidade?
- Depois que o mágico foi embora, a Companhia caprichou na vingança pelos dias de encantamento junto de Grande Uzk. Que atitude ela tomou?
Ainda no capítulo 6, Horácio (pai de Lucas) começa a se aproximar do filho. Observe:
Não cheguei a abraçá-lo e até beijá-lo porque me faltava com ele a intimidade que eu tinha com mamãe. Mas naquele momento eu o vi como pai mesmo. “Felizmente gorou. Um mal que veio para bem.” Ele parecia aliviado. Talvez não fosse difícil nos entendermos como amigos se ele deixasse mesmo o emprego. [...]
- Qual era a postura do pai de Lucas antes dessa tentativa de aproximação?

Explicar para o aluno que a personagem Horácio é esférica, possui uma complexidade psicológica. Como mote para as discussões, leia o fragmento a seguir, se possível o entregue aos alunos:

Para Forster, “as personagens, flagradas no sistema que é a obra, podem ser classificadas em planas e redondas. As personagens planas são construídas ao redor de uma única ideia ou qualidade. Geralmente, são definidas em poucas palavras, estão imunes à evolução no transcorrer da narrativa, de forma que as suas ações apenas confirmem a impressão de personagens estáticas, não reservando qualquer surpresa ao leitor. [...]
As personagens classificadas como redondas, por sua vez, são aquelas definidas por sua complexidade, apresentando várias qualidades ou tendências, surpreendendo convincentemente o leitor. São dinâmicas, são multifacetadas, constituindo imagens totais e, ao mesmo tempo, muito particulares do ser humano
(Brait, Beth. A personagem . São Paulo: Ática, 1985)

- A personagem Horácio se classifica como plana ou esférica? Por quê

8ª etapa: leitura compartilhada dos capítulos 7 e 8

Peça que os alunos respondam por escrito. Pode ser uma atividade em dupla.

– Ao longo desses capítulos, o pai tenta mudar de vida e instalar um armazém. Porém, a instalação não acontece de forma fácil. Por quê?
- Há mudança no tratamento dispensado ao pai de Lucas pelas pessoas que antes o respeitavam? Por qual motivo?

A cidade viveu dias intensos de chuva. A tal ponto de ninguém conseguir sair de casa. Quando a chuva passou e o Sol voltou a brilhar, Taitara pareceu até mais feliz. Veja:

As ruas lavadas davam à cidade um aspecto renovado, e se não fossem os muros, sempre em pé, sempre antipáticos, podia-se pensar que o tempo feliz não tardaria. Nas praças e jardins, nos quintais, nos pátios as plantas brotavam com um viço impressionante, e a quantidade de borboletas que apareceram de repente, como nascidas do contato do sol com a umidade da terra, deixava todo mundo intrigado mas contente com o colorido benfazejo. O tempo feliz estava no ar. A alegria era tanta que íamos esquecendo a Companhia.

- Como tentativa de proibir qualquer liberdade e alegria, novas proibições foram impostas pela Companhia. Quais são elas?

9º e 10ª etapas: a alegoria e Ditadura militar
Retome com o aluno o fato de o tempo da narração ser diferente do tempo do narrado. Essa distância temporal permitiu que o narrador-personagem amadurecesse. Assim, ao se lembrar dos fatos, poderia refletir sobre eles. É o que ocorre quando se lembra de Felipe, filho de Dr. Marcondes. Leia para a sala:

Felipe de Dr. Marcondes disse uma coisa muito certa, só agora é que percebo. Um homem foi ferrado de arraia numa pescaria aqui perto, disseram que ele chorou uma tarde e uma noite pedindo aos companheiros que o matassem porque a dor era insuportável. Comentei o caso com Felipe, ele não ficou impressionado como eu esperava; disse apenas que isso ou era fita ou exagero ou lenda porque não existe dor insuportável; dor insuportável ninguém sabe como é porque ainda não sofreu.

Já mais crítico, Lucas reflete sobre a situação vivida em Taitara. E dá razão à fala de Felipe. Observe:

Pensando agora em nossa situação aqui, vejo que Felipe tinha razão. Todo mundo vem dizendo há muito tempo que a vida está insuportável, e que se continuar assim... Pois continua, e cada dia piora, e estamos aí aguentando. Quando parece que não vamos aguentar mais e cair no desespero, alguém inventa um passatempo para nos distrair.

Reitere com a classe que ver urubus, encantar-se com o mágico, subir a um lugar alto e olhar os campos e estradas além das divisas de Taitara eram as distrações inventadas para conseguir suportar uma realidade repressora.

Peça para os alunos responderem por escrito:

- O que Felipe viu de cima da torre?
- O que essa visão lhe causou?
- Nesta época a Companhia queria ter controle das hortas dos moradores. Qualquer matinho extra que nascesse, se não tivesse sido declarado, imputaria punições. Durante a fiscalização na casa de Lucas, o que os fiscais veem?
- Assim como o surgimento dos muros, a infestação de urubus na vida das pessoas e o mágico que ninguém tem certeza se realmente apareceu na cidade, o voo dos homens é algo que foge da realidade. Arrisque uma interpretação: por que as pessoas da cidade saem voando? Qual o significado do voo no contexto da obra?
- Assim que a Companhia soube do voo dos moradores tratou de baixar proibições. Os moradores obedeceram a elas?

Insista com os alunos que o surgimento dos muros, a amizade dos moradores com urubus, o voo dos moradores são alegorias.

Uma alegoria é uma representação tal que transmite um outro siginificado em adição ao significado literal do texto. Em outras palavras, é uma coisa que é dita para dar a noção de outra, normalmente por meio d’alguma dedução moral.
É bastante fácil confundir a alegoria com a metáfora, pois elas têm muitos pontos em comum.

Para melhor entender o que seja uma alegoria, podemos citar alguns exemplos.
O mais conhecido exemplo de alegoria é provável que seja O Mito da Caverna, de Platão. O autor referia-se aos mitos e superstições de seus contemporâneos, comportamento que ficou representado pela alegoria da caverna em que as pessoas ficariam presas e imóveis, sem jamais poder contemplar diretamente o que acontecia fora dali.
(http://cursodeportugues.blogarium.net/figuras-de-linguagem-alegoria/)

Atividades orais:
Pergunte aos alunos:

- Você identifica o livro como uma história de opressão?
- A opressão do livro é marcada? Faz referência a uma época e lugar específicos?
- Saindo um pouco da obra, olhando para a História do Brasil, já houve algum momento em que vivemos uma opressão, censura, perda de liberdade. Se sim, quando?

Se possível, leve o professor de História para contextualizar o período da Ditadura Militar. Caso isso possa ocorrer, acrescente mais uma aula ao cronograma.

Após contextualização, retome com o aluno que a obra Sombras de reis barbudos foi publicada em 1972, em plena ditadura Militar. Sendo assim, ela pode ser lida como uma alegoria do período de opressão no Brasil. Contudo, mostre aos alunos a atualidade da obra. Pelo procedimento alegórico, ela se torna mais abrangente, servindo como alegoria de situações de opressão em geral, não apenas do Brasil da ditadura. Deve ser lida como um romance que flagra a resignação humana diante da opressão, mas também a resistência ao status quo e a busca pela liberdade.

Avaliação

De posse ao livro, peça uma atividade escrita e individual. Pode seguir o rol de questões:

Agora que já conhece a obra, analise o título “Sombras de reis barbudos”. Leve em consideração as suas inferências no início do projeto, o significado do título, suas expectativas para a história se mantiveram ou foram alterados? Por quê?

Segundo o dicionário Michaellis online:

rei
sm (lat rege) 1 Soberano de um reino; o chefe do Estado de um país monárquico; soberano de uma monarquia; monarca; príncipe reinante. 2 O marido ou o pai da rainha. 3 Título do pai do rei. 4 Pessoa que exerce um poder absoluto. 5 Indivíduo mais notável entre outros da sua classe, em determinada atividade

sombra
sf (lat sub illa umbra) 1 Espaço privado de luz, ou tornado menos claro, pela interposição ou presença de corpo opaco; a falta de luz produzida pela presença de um corpo opaco. 2 Escuridão, trevas, noite. 3 poét Coisa que parece impalpável e imaterial como a sombra. 4 Mancha, nódoa. 5 Defeito, mácula, senão. 6 Alma, espírito. 7 Espectro, fantasma, manes, visão. 8 Indivíduo que acompanha ou persegue constantemente outro. 9 Aparência, sinal, traço, vestígio. 10 Ligeira noção; tintura, visos. 11 Pessoa ou coisa que decaiu da sua antiga grandeza ou poder. 12 Poder, proteção, valor. 13 Imagem imperfeita, representação vaga. 14 A intercepção da luz, produzida pela folhagem das árvores.

A partir de seu entendimento da obra, responda:
- Por que a escolha do título Sombras de reis barbudos? O que esse título sugere na obra?
Lucas ao andar pela cidade percebe que ela está totalmente abandonada. Em suas voltas, entra na loja de seu Chamun. Lá encontra um professor. Observe:

Estava lá um senhor magro de olhos fundos vestido de branco falando com voz de corda grossa de violão. Quando cheguei esse homem dizia com a maior naturalidade que não tem ninguém voando. Estranhei mas fiquei calado, podia ser alguma brincadeira entre os dois. Mas seu Chamun falou perguntando:
— Então nós todos estamos malucos?
— Malucos propriamente não. Estamos sofrendo de uma alucinação coletiva. [...]

- Qual o significado de alucinação coletiva no contexto da obra?

Consultoria

Helena Weisz
Mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo (USP)

Regiane Magalhães Boainain
Mestre em Literatura e Crítica Literária pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC- SP)

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