Garoto linha dura
Deu-se que o Pedrinho estava jogando bola no jardim e, ao emendar a bola
de bico por cima do travessão, a dita foi de contra a uma vidraça e
despedaçou tudo. Pedrinho botou a bola debaixo do braço e sumiu até a
hora do jantar, com medo de ser espinafrado pelo pai.
Quando o pai chegou, perguntou à mulher quem quebrara o vidro e a mulher
disse que foi o Pedrinho, mas que o menino estava com medo de ser
castigado, razão pela qual ela temia que a criança não confessasse o seu
crime.
O pai chamou o Pedrinho e perguntou:
- Quem quebrou o vidro, meu filho?
Pedrinho balançou a cabeça e respondeu que não tinha a mínima idéia. O
pai achou que o menino estava ainda sob o impacto do nervosismo e
resolveu deixar para depois.
Na hora em que o jantar ia para a mesa, o pai tentou de novo:
- Pedrinho, quem foi que quebrou a vidraça, meu filho? - e, ante a
negativa reiterada do filho, apelou: - Meu filhinho, pode dizer quem foi
que eu prometo não castigar você.
Diante disso, Pedrinho, com a maior cara-de-pau, pigarreou e lascou:
- Quem quebrou foi o garoto do vizinho.
- Você tem certeza?
- Juro.
Aí o pai se queimou e disse que, acabado o jantar, os dois iriam ao
vizinho esclarecer tudo. Pedrinho concordou que era a melhor solução e
jantou sem dar a menor mostra de remorso. Apenas - quando o pai fez
ameaça - Pedrinho pensou um pouquinho e depois concordou.
Terminado o jantar o pai pegou o filho pela mão e, já chateadíssimo,
rumou para a casa do vizinho. Foi aí que Pedrinho provou que tinha
idéias revolucionárias. Virou-se para o pai e aconselhou:
- Papai, esse menino do vizinho é um subversivo desgraçado. Não pergunte
nada a ele não. Quando ele vier atender à porta, o senhor vai logo
tacando a mão nele.
(Stanislaw Ponte Preta, Dois amigos e um chato. São Paulo, Moderna,
1995.)
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